Pesquisar este blog

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A vida é um concurso

Eu não crucifico, mas vocês pensam que a vida de blogueiro é fácil.
Quem dera.
E o pior é conciliá-la com a vida de concursando (ou seria concurseiro? Na dúvida, usarei os dois. Cansei de procurar toda e qualquer resposta no Google). Aí já é coisa de outro mundo.
Seria até cômico se não fosse trágico, mas outro dia parei para refletir e cheguei à conclusão de que, por exemplo, ir ao supermercado se transformou em verdadeira sessão de terapia nesses tempos de concurso público. Há ou não há algo de muito errado comigo? Acho que já sei a sua resposta ...
Mas, me deixe desabafar um pouco.
No auge da minha crise existencial, quase cheguei a me apresentar voluntariamente em um hospital para pedir para ser internado. Não ria, gente. Estou falando sério. Bom, eu acho que estou. Pelo menos parece, né.
Na minha cabeça, o ápice da insanidade começou na manhã daquela segunda-feira. Havia uma gritaria logo cedo no apartamento ao lado. Era a vizinha que estava dando a luz a um bebê. Rapidamente pus uma bermuda e uma camisa e fui ver aquela cena. Entre sangue, lágrimas e muita alegria de todos que estavam presente, eu só conseguia pensar no seguinte: "Ele respirou? Entrou ar nos pulmões? Opa, então segundo a melhor doutrina que adota a Teoria Natalista, a personalidade começou com o nascimento com vida". Meio transtornado com aquele pensamento jurídico inoportuno para o momento, voltei para casa. Ao retornar ao meu quarto, comecei a ouvir vozes vindas da janela. Eram os operários da obra de recuperação da fachada do meu edifício. Que sujeitos grosseiros e mal educados. Eu queria estudar, pedi para eles evitarem falar alto. Me ignoraram. Lá pela quarta ou quinta vez, eu me levantei da cadeira e aos berros gritei: "Porra negão, vai pro inferno com esse barulho. Fala grosso, seu voz fina de merda. Essa porcaria de obra que não termina nunca, vocês estão superfaturando a porra toda, estão roubando o prédio, seus safados". 10 minutos depois e a polícia batia aqui na minha porta. Perguntaram o meu nome e eu respondi: "Prazer, Eliseu Drummond, funcionário da Telerj". Maluco, eu? Jamais. O STF em algum informativo desse ano livrou a cara de um sujeito que na delegacia se recusou a dar o nome correto dele. Segundo os juristas, encontra-se na esfera da auto-defesa a conduta de se recusar a fornecer o próprio nome às autoridades policiais ou dá-lo incorretamente. Com isso, julgaram a conduta atípica e soltaram o mané. Mas, isso é na teoria né malando, porque na prática, "educadamente", me conduziram à delegacia. Racismo, calúnia, injúria, difamação, nem lembro mais do que o inspetor me falou que eu tinha cometido. Na minha cabeça eu sabia que aquilo não daria em nada. Sou péssimo em penal, mas afastando o racismo, todos os demais delitos eram de menor potencial ofensivo. Seria lavrado um termo circunstanciado, eu não seria preso e no Juizado Especial Criminal aceitaria alguma medida despenalizadora para trancar a ação. Pagaria algumas cestas básicas ou cumpriria alguma medida restritiva de direito e nada mais. Sequer apareceria na minha FAC aquilo. Mas, no final das contas, os sujeitos resolveram aliviar pro meu lado e não foram adiante com a reclamação. Sorte a deles. E que no dia seguinte ficassem calados trabalhando!!!!
No entanto, rapaziada, o dia estava longe de terminar. Foi só chegar em casa e comecei a ouvir minha mãe reclamando no meu ouvido pelo show que eu proporcionara aos vizinhos. Ainda tentei argumentar, mas ela não permitiu. Ela com certeza nunca ouviu falar em ampla defesa e contraditório, muito menos na presunção de inocência. Estado Democrático de Direito só existe da porta para fora da minha casa. Aqui dentro, a regra é clara: olho no olho, dente por dente, sem reexame necessário. Mãe é uma só, sabe como é né ... tem que respeitar! Como castigo, fui obrigado a pagar as contas no banco. E o pior, com o meu dinheiro. Chegando na agência, em pleno dia 10, a fila era quilométrica! Logo me veio à cabeça uma lei (que nunca ninguém viu o número, os artigos ou banco sendo responsabilizado pelo seu descumprimento) que vedava a espera na fila por mais de trinta minutos. Eu já estava preparando o cenário para uma ação indenizatória e assim garantir o meu carnaval em Salvador em 2012, mas ... a mulher do caixa me chamou. Sacanagem! No meio de tanta conta, duas me chamaram a atenção: a anuidade da OAB e a taxa de incêndio. Só conseguia imaginar que a primeira, segundo decidiu o STJ, não tem natureza tributária. Logo, a OAB jamais poderia ajuizar uma execução fiscal contra mim! Ao contrário da taxa de incêndio. E com essa percepção, vieram todas aquelas idéias de prerrogativas da Administração Pública, a natureza sui generis da OAB (diferente de todos os demais conselhos de classe profissional). Quando vi, já tinha pago tudo. Era hora de retornar pra casa, tomar um banho e ir assistir aula no cursinho.
Dito e feito. No caminho até o Centro, fui de ônibus. Aliás, seria isso mesmo? No meio da Presidente Vargas, o ônibus colidiu com outro veículo, fazendo com que vários passageiros se machucassem em seu interior. Enquanto muitos choravam, xingavam ou permaneciam atônitos, eu só me lembrava da responsabilidade objetiva do transportador e das inúmeras ações indenizatórias que eu ajuizaria como advogado daqueles passageiros. Naquela altura, eu já estava convicto de que algo não estava legal dentro de mim. Tudo, absolutamente tudo que eu fazia, via ou ouvia logo fazia um link para algum tema jurídico. Que merda.
Depois do susto, enfim consegui chegar ao curso. Aula de direito do trabalho. Isso mata qualquer um, menos a mim. Eu adoro (percebam, eu não disse que sei direito do trabalho, apenas gosto de estudar e assistir aula dessa matéria). A aula termina e volto para casa. Antes, vou à lanchonete para comer um salgado e beber uma coca. Mas o preço, onde está? É relação de consumo, onde estão a transparência e a informação? O consumidor é parte vulnerável! Era óbvio que o lanche não cairia bem no meu estômago.
Enfim, estou em casa. É hora de descansar, assistir HOUSE na tv. Mas, antes, vou acessar os meus emails, vai que a mulher da minha vida me escreveu dizendo que estava com saudade e queria me ver? Nada disso, o que tinha mesmo era email oriundo do STJ e STF com os malditos informativos. Mais coisa para ler e estudar. O email da mulher da minha vida ficou apenas na imaginação, mas de repente é até melhor, pois imagina se eu case, tenha filhos e lá na frente as coisas dão erradas, um de nós morre, como fica? Direito de Família, Sucessões ... chega! Vou dormir, amanhã será um novo dia ... um novo dia em que o Direito teima em não me deixar em paz! Socorrooooooooooooooooooooooooooo!
Brincadeiras à parte, nem sempre as coisas foram assim. Houve um tempo em que tudo parecia ser mais fácil. As responsabilidades eram outras, os problemas também. E olha que não faz tanto tempo assim e que não estou falando da época do colégio!
Você pode achar que não, mas até os sonhos têm um preço, afinal, para cada escolha que você faz na vida, algo é renunciado por você. E comigo não foi diferente quando ao me aproximar dos 30 anos, vislumbrei um novo projeto, ou simplesmente um novo horizonte na minha vida. Horizonte este que me garantisse, no mínimo, trinta dias de férias por ano, boas noites de sono, uma aposentadoria honrosa e de repente, quem sabe, uma qualidade de vida infinitamente melhor e mais tempo ao lado de filhos que ainda não tenho e esposa que sequer imagino ter um dia. No início, pareceu loucura. Trocar o incerto pelo potencialmente certo. Mas, vou te confessar algo: difícil não é tomar a decisão de largar a vida de advogado e se dedicar aos estudos. Difícil mesmo é você se manter firme nesta decisão depois da primeira dificuldade ou frustração de um projeto ou ambição que até ontem era tangível, palpável.
A sociedade é bastante injusta. Parece dá valor apenas a quem trabalha e trata com desdém àqueles foram em busca de seus sonhos. A gente percebe nos olhos da pessoa que te pergunta o que você faz vida e você responde: "estou estudando para concurso". Faz parecer inclusive que você é um criminoso. Não entra na minha cabeça a idéia de que um sujeito pode chegar a uma altura da vida e aceitar a idéia de ser improdutivo. No fundo, todos querem se sentir úteis, não é mesmo? Às vezes, dá vontade de responder ao sujeito: "você acha que eu não faço nada? Você acha que estudar é pouca coisa? Vá se fuder, filho da puta!" Além de estudar horas em casa, aturar horas de aula com professores esquisitos que lecionam matérias insuportáveis (e por incrível que pareçam, gostam dessa merda), quebrar a cabeça para entender os posicionamentos transloucados do STJ e STF a cada semana e entender as sessenta e nove correntes doutrinárias sobre um mesmo tema, o concurseiro ou concursando deve-se preocupar ainda em ser um bom filho, irmão, namorado, pai, amigo, torcedor fiel ao seu time de futebol, fazer compras no supermercado, pagar as contas no banco e interagir com o mundo. E você ainda acha pouco o fato dele "só" estudar? Perdoem Senhor essas pobres almas. Eles não sabem o que estão falando.
Perto de completar 1 ano da decisão mais importante da minha vida depois da escolha do meu time de futebol, eu olho para trás e consigo enxergar progressos. O caminho adiante ainda é longo e no decorrer do percurso sofrerei com os seus traiçoeiros espinhos. Só que não entrei nessa jornada para perder, meu bom rapaz. Não preciso ser o primeiro a passar. Basta passar. E lembrem-se, para cada queda, eu me levantarei ainda mais forte e convicto. Para cada obstáculo superado, o suor do meu esforço medirá o grau da minha felicidade e o nível da minha confiança. Para mim, nada é impossível. Alguns desistem no meio do caminho. Outros, recompõem suas energias e seguem firmes até o final da estrada. Para o alto e avante. Sempre. Sugiro que você faça o mesmo. Procure se conhecer melhor. Identificar seus pontos fracos, seus limites, suas qualidades, seus pontos fortes. Não queira começar abraçando o mundo. Antes, é preciso conquistar alguns continentes. Seja um franco atirador, mas jamais deixe de ser protagonista na sua própria vida, beleza? E não se esqueça de me convidar para o evento da sua posse, porque o da minha já estão todos convidados desde já!
Vou terminar por aqui. Não gostou do texto de hoje? Ótimo, me processe, afinal, todo candidato dos principais concursos públicos da área jurídica precisa comprovar a tal da maldita prática jurídica, logo te encontro na sala de audiência ... fui!
Em tempo: os exemplos jurídicos narrados no texto decorrem de imaginação do autor, ou seja, não reportam situações verdadeiras, tampouco a opinião do blogueiro sobre determinado assunto ou pessoas. Tudo pela poesia literária, cacete!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Obra do Destino ou do Acaso?

O que acontece em nossas vidas é obra do destino ou do acaso?
Desculpe-me cortar o seu barato, mas a resposta a essa pergunta está além da compreensão humana. Tudo que for dito aqui se resumem a meras suposições, de quem a cada segundo formula argumentos razoáveis para cada um dos lados. Não sei bem como te dizer isso, mas é provável que você só tenha certeza mesmo depois que morrer. Agora, se Deus não existir, você vai morrer e continuar sem saber a resposta. Difícil, né?
Um religioso dirá que tudo que acontece em nossas vidas decorre da vontade divina, previamente estabelecida. Em sentido contrário, existirão pessoas que rechaçarão essa idéia, sob o argumento de que não seríamos meramente marionetes de terceiros, sendo o livre arbítrio e a fatalidade (ou acaso, como preferirem) condutores dos sucessivos e distintos rumos que a vida da gente toma ao longo dos anos.
Quem está certo e quem está errado? Como disse, eu não tenho a resposta. Mas, posso falar um pouco de cada um desses dois extremos.
Por mais cético, racional e ateu que você possa ser, é inegável que em diversos momentos da sua vida foi possível enxergar a presença de Deus, ou ao menos invocá-la. Talvez, a dificuldade dos homens em compreender a fé e a religião resulte justamente em visualizar Deus em sua essência humana. E a teimosia em querer racionalizar e equacionar como se tudo fosse uma grande fórmula matemática também afasta bastante o homem de Deus e das respostas às perguntas que ainda não foram respondidas. Tudo seria tão mais fácil se aceitássemos a idéia de que certas questões prescindem de respostas ou esclarecimentos. Estão ali para serem somente vividas e não compreendidas.
Não adianta relutar: a história da sociedade caminha de mãos dadas com a religião. Diria até se tratar de algo cultural, que se transmite de gerações a gerações. Presumir a existência de uma entidade superior responsável pela vida em suas mais variadas concepções não é algo tão absurdo. E isso é um passo para aceitar que essa tal entidade possa interferir e ser diretamente responsável por tudo que te acontece. Não tente negar o óbvio, você pode até não acreditar em Deus, mas ainda assim carrega dentro de si uma fé em compasso de espera para ser testada e explorada em algum momento da sua vida. Com sinceridade, me responda: se você estiver dentro de um avião que está prestes a cair no Oceano Atlântico, o que faria? Jura? Verdade? Olha lá, hein. Bem, 9 entre 10 pessoas que responderem essa pergunta dirão que, entre lágrimas, gritos de desespero e promessas de amor eterno, rezariam a Deus e pediriam perdão por seus erros e que protegesse seus entes queridos.
No entanto, hoje você pode ter amanhecido de mau humor depois de ter dormido de calça jeans a noite inteira e só de sacanagem vai contrariar tudo o que eu disser. Tudo bem, é direito seu, embora eu não goste muito dessa coisa de ser contrariado e dessa tal democracia débil que detona a vida da gente todos os dias. Mas, por amor ao debate, vamos defender o outro lado, que não necessariamente é o lado negro da força, ok?
Mas e se nada que acontece em nossas vidas decorrer de algo pré estabelecido? Se tudo for resultado de nossas escolhas em conjunto com o acaso, com a fatalidade? Trilhar esse caminho é fazer da imprevisibilidade um aliado ou um inimigo impossível de ser compreendido, superado ou derrotado.
Quem defende essa posição não pode ser muito afeto à idéia, por exemplo, de que "fulano é o amor da minha vida" e coisas do gênero, afinal, nunca se sabe o dia de amanhã. Se você não acredita em destino, o dia de amanhã é imprevisível, por mais que a rotina te enclausure. Tudo é possível, meu caro. O acaso te força a tomar decisões que você não tem como dimensionar as consequências e os desdobramentos. Mas, te confere liberdade para ir atrás de seus sonhos, de atrair ou repulsar coisas e pessoas de perto de você. Além disso, o acaso permitiria novos e sucessivos ciclos e reinícios ao longo da vida. Há a célebre frase : "a cada escolha, uma renúncia". Por trás de toda escolha, pessoas e lugares se afastam, outras se aproximam, momentos e sentimentos se misturam. E uma nova vida é simplesmente vivida, experimentada. Ademais, estas escolhas seriam frutos de experiências particulares de cada um, não seguindo qualquer lógica, não havendo que se falar em certezas.
Comigo, em apertada síntese, teria funcionado assim: minha mãe é nordestina, meu pai é capixaba. Meus avós paternos eram libaneses e somente se conheceram no Brasil, no interior do Espírito Santo. Nasci no Rio de Janeiro no bairro do Grajaú, mas minha vida inteira morei na Tijuca. Estudei em colégio católico e por várias vezes errei o "Pai Nosso". Já chorei, briguei, agradeci e rompi com Deus. Já fui um aluno exemplar, mas cheguei a ser suspenso no colégio por confusão com um grande amigo na aula de Educação Física. Contrariando o biotipo e o histórico familiar, sempre pratiquei esportes. Comecei com o judô, passei pela natação, fugi do volêi e pelos centímetros a mais, resolvi jogar basquete. Por conta do vestibular, abreviei minha carreira esportiva. Comecei o 3º ano como candidato à faculdade de Medicina e terminei entrando para o curso de Direito. Adorava a Candido Mendes Centro, onde me tornei representante de turma, fiz amigos, ganhei título como atleta do basquete, vivenciei coisas novas. Até que meu pai teve câncer novamente. Larguei tudo, resolvi estudar de novo. O coroa se foi, mas passei para UFRJ. Conheci meus melhores amigos lá. Fui padrinho de alguns e outros serão os meus. Achei que seria delegado, me tornei um advogado. Logo no primeiro estágio, ganhei um amigo para toda a vida, meu primeiro chefe. Pouco tempo depois, em uma manhã ensolarada de um domingo qualquer caminhando pelas ruas da Tijuca, reencontrei um amigo querido da época do basquete que trabalhava em um grande escritório de advocacia. Mandei currículo, fiz prova e de repente estava em outro estágio. Voltei a jogar basquete pela faculdade. Perdi jogos, ganhei partidas, xinguei e fui xingado. Amigos e inimigos aos montes. Na época que mais desejei e gostei de estar solteiro, encontrei alguém que estagiava do meu lado. Amei como nunca amei alguém. Larguei o estágio para me dedicar aos estudos. Na semana seguinte consegui um outro estágio. Um mês depois fui contratado. Monografia em uma semana, OAB em três dias, mas formei e me tornei advogado. O amor chegou ao fim, rompi, sofri, chorei, sobrevivi. Renasci, recomecei. Viajei, conheci lugares e pessoas, namorei outras vezes. Amei e fui amado. Odiei e fui ainda mais odiado. Larguei tudo e a todos. Engordei. Perdi cabelo, envelheci. Vivi, fui feliz. Refleti e decidi: ano novo, vida nova. Meu Deus, como tudo que aconteceu comigo pareceu seguir uma lógica, ainda que imprevisível e inusitada. Mas, em cada capítulo desse uma lição, um aprendizado, um traço de Deus eu pude perceber. Tomei decisões algumas vezes, em outras tomaram por mim. Quando não dava nada por algo ou alguém, me surpreendi. Naquela noite que eu não queria sair, conheci pessoas especiais. As viagens que tinham tudo para não acontecer, aconteceram. Novos caminhos, novas opções, novas portas e uma grande experiência. Eis a vida, única, essencial. O amanhã é apenas um novo dia. Um dia para novas decisões, novos caminhos. Acaso e destino nunca me causaram medo. Medo mesmo eu tenho de passar por aqui e não deixar um legado, ainda que seja para o filho que um dia pretendo ter.
Em outras palavras, o acaso seria tão somente uma espécie do qual o destino é gênero. Eita, falei difícil e complicado! Merda. Explicando (ou tentando): de repente o cara lá em cima escreveu inúmeros capítulos para nossas vidas, compostos de diferentes alternativas já pré-estabelecidas, cabendo ao homem escolher por qual porta entrar e qual caminho seguir ao longo da vida. E que tais escolhas provocariam os acasos que nos deparamos diariamente em nossas vidas. É uma tese, apenas uma tese, nada mais do que uma tese. Ninguém precisa me indicar ao Oscar ou ao Prêmio Nobal de Personalidade do Século XXI por isso. Se bem que a idéia não seria tão ruim ...
Mas, enfim, a escolha deste tema não foi a toa. Diria que precede um momento particular de reflexão. De "A a Z", mil coisas passam pela minha cabeça todos os dias. Como a maioria sabe, eu sou 8 ou 80. A monotonia cansa e me deixa angustiado. Logo, gerar conflitos, por incrível que isso pareça, me traz o conforto necessário que preciso. Estranho, não? Bastante. Mas reparem no meu drama: ao acordar ontem, tinha outros planos para o meu domingo. Ir ao cinema sequer passava pela minha cabeça até o meio da tarde. Mas, acabei indo. Só que assistir "Agentes do Destino" não era a minha opção número 1. E mesmo assim o fiz. Por conta dos estudos, tinha programado escrever só no fim desta semana aqui no blog, porém o estou fazendo em plena segunda-feira. Terá sido por acaso ou coisa do destino? Acho que nunca saberei ...

domingo, 8 de maio de 2011

Um tributo a minha mãe

Hoje é domingo, Dia das Mães. A essa altura dos acontecimentos, você já escolheu o presente dela, já retornou daquele almoço de família e com certeza deu um beijo e um abraço carinhoso na sua mãe. Se ainda não fez isso, vai por mim, esqueça o presente e o almoço, mas não deixe de beijá-la e abraçá-la. Acredite, as mães se realizam com gestos simples de carinho e amor.
Como o leitor já pôde perceber, o blog hoje irá se aventurar nesse tema. Tarefa das mais difíceis para quem a biologia não deu um voto de confiança. Aliás, se Deus de fato existe, é um sujeito bastante inteligente, afinal, conferiu à mulher a responsabilidade (mas, sem dúvidas, uma verdadeira dádiva) de gerir uma nova vida. E essa escolha não foi por acaso. Só carregamos aquilo que podemos suportar. Ora, ninguém aqui duvida que um homem não suportaria a dor no parto, o primeiro sinal de enjôo, as alterações no próprio corpo, amamentação, trocas de fraldas, choros intermináveis pela madrugada, dentre tantos outros itens do "pacote", não é mesmo? Começo a desconfiar de que na verdade ... Deus é Deusa! E que nenhum católico fervoroso leia isso aqui, pois não gostaria de me juntar a João Calvino, Fidel Castro, Juan Domingo Perón, Miguel de Cervantes na lista dos excomungados pela Igreja Católica...
Talvez fosse mais fácil escrever hoje sobre futebol, sexo, drogas e rock n´roll. Talvez. Mas, o apelo hoje é outro. E em respeito a todas as mães do Brasil e do mundo, em especial, a minha, tentarei escolher as palavras certas que me permitam ao final ter a certeza de que consegui prestar uma singela homenagem a ela.
Por obviedade, eu jamais saberei o que é ser mãe. Mas, como filho sei reconhecer a importância de ter uma perto de mim. Há pouco mais de 10 anos, perdi meu pai. Em contrapartida, perto dos meus 20 anos, ganhei a chance de novamente estreitar os laços que unem um filho a sua mãe.
Admito, não foi fácil no início. Brigas, discussões, afastamento, rejeição. Quando se é muito jovem, não temos maturidade suficiente (nem vontade) para lidarmos com certas coisas. Partimos da premissa que ela deve estar sempre ali, disponível e forte, pronta para nos atender. Não é assim que as coisas funcionam. Apesar de heroínas, nossas mães são seres humanos iguais a gente. A juventude cega os nossos olhos. O futuro aparenta se revelar além do horizonte. Há aquela sensação de que tudo pode ser corrigido amanhã. E que um pedido de desculpa resolve tudo. Não, isso não é verdade. Esqueçam isso. Palavras se perdem ao vento; seus gestos e suas atitudes dirão no futuro quem você foi e o que você fez.
E por muito tempo, fui um sujeito medroso, escroto e deveras egoísta, a ponto de só pensar em mim, não me preocupando com ela. E foi assim que durante anos, covardemente nunca me coloquei na posição dela, de tentar entender o seu sofrimento, a perda do marido. Eu tinha minha faculdade, meus amigos, minha vida. Quem ela tinha? As vezes, lembrar de certos momentos me envergonha muito, faz com que eu me sinta o pior dos homens. Sinto uma raiva de mim muito grande.
Junto com a queda do cabelo e o envelhecimento do corpo, os anos a mais te proporcionam experiência para conduzir melhor a sua vida. E esta te dá uma segunda chance para reescrever aquele capítulo que não estava legal. E quando isso acontece, você não repete seus erros (as discussões até acontecem, mas em patamares razoáveis, sadios).
Da relação com a minha mãe, descobri que ser mãe é amar sem exigir nada em troca. É perdoar incondicionalmente. É se alegrar de suas conquistas (mesmo não fazendo a mínima idéia do que estas representam ou possam ser), é ter sempre um conselho na ponta da língua. É ter um pedaço considerável dela dentro de você. Por mais que você rechace essa idéia, no fundo, com pequenas variações de temperatura e pressão, somos um pequeno produto de nossos pais, de nossa educação, de nossas experiências. Com ou sem defeitos, não amá-los significa desprezar um pouco do que você é. "Honra teu pai e tua mãe", como bem ensina um dos dez mandamentos.
Já dizia o poeta que no meio do caminho havia uma pedra; havia uma pedra no meio do caminho. É verdade. No meu caso, existiram centenas delas. E mesmo assim, não foram suficientes para tirar a mim e a minha mãe do caminho certo (a felicidade). Enquanto "lutávamos" cada um por si, era impossível avistar o que havia além das pedras. Mas, a partir do momento que nos demos as mãos e voltamos a ser uma coisa só (família), afastamos as dificuldades e reencontramos o tesouro perdido além das pedras (o amor, a felicidade).
Hoje, domingo, Dia das Mães, é dia de agradecer por tê-la comigo. É dia de pedir por saúde para prolongar por muitos anos a presença dela ao meu lado. É dia de renovar os votos de mãe e filho, de estreitar ainda mais os laços de amor que unem desde a minha concepção. É dia de carregá-la no colo e dizer: "mãe, estou aqui. Sempre. Juntos, eu e você, você e eu. Obrigado por tudo". É dia de relembrar momentos marcantes da minha vida e descobrir que na maior parte deles, ela estava ali do meu lado, me incentivando, me educando, zelando por mim, amando-me.
Ao fazer isso no dia de hoje, me questiono: como não amar a minha mãe se é justamente aquela que diariamente suporta sempre com um sorriso e um carinho o meu habitual mau humor, as minhas crises existenciais, os meus conflitos com o mundo?
Como não amá-la pela escolha dela de trocar o Botafogo pelo Flamengo depois de tantos anos simplesmente para ter mais momentos ao meu lado em dias de jogos do Mengão? Pelas lágrimas de alegria e tristeza depois de cada conquista rubro-negra?
Difícil não amar quem enche o pulmão de ar para dizer aos quatro cantos do planeta o orgulho que sente por ter filhos como eu e o meu irmão, como?
Como não amar quem abdicou de sua vida profissional para poder dedicar mais tempo da sua vida com a minha educação, com o meu bem estar, com o meu crescimento?
Como não amar e agradecer àquela pessoa que escolheu o colégio onde eu estudei? Como não amar essa mulher que diariamente me levava para os cursinhos de inglês, treinos de basquete, natação, judô?
Como não amar quem se preocupa comigo quando estou gripado, lesionado ou simplesmente quando viajo e fico sem dar sinal de vida?
Me sinto um pouco incomodado pelo trabalho que dou a ela, afinal, ela se responsabiliza pelas minhas refeições praticamente todos os dias, pelas roupas limpas e bem passadas, por agendar meus médicos, por quebrar todos os galhos que eu preciso. Vivo pedindo para ela não se preocupar, para não fazer, mas você acha que adianta? Ela me "desobedece". Diz que faz por amor, que faz para eu me preocupar exclusivamente com os meus estudos e ir atrás dos meus sonhos. Como não amar uma pessoa assim? Aliás, o meu combustível que alavanca os meus estudos hoje começa e termina na idéia de dá-la uma vida ainda melhor e que, juntos, tenhamos ainda milhares de momentos juntos, de alegrias e comemorações. E que nos dias ruins, possamos permanecer unidos, protegendo e cuidando um do outro. Afinal, somos uma família, somos filho e mãe, mãe e filho. E tem sido assim na história da humanidade nos últimos milhares de anos.
Agora, a pergunta que não quer calar: meu Deus, por que ela fez e faz tudo isso para mim? Simples. Porque ela é mãe. Porque em algum dia do passado, ela jurou me amar e cuidar de mim para todo o sempre. Porque não importam os obstáculos, as provações e que eu tenha quase 30 anos. Para ela, serei sempre aquele garotinho indefeso, aquela criança que ela ensinou tudo e que carregou nove meses na barriga. É rapaziada, serei sempre o filhinho da mamãe, o mais velho, aquele que fez dela mãe. Isso não deve ser pouca coisa. Graças a Deus.
E nesse Dia das Mães, uma revelação: vivo o melhor momento da minha relação com ela. Poucas vezes me senti tão conectado a ela. Foi preciso perder um pai e passar por maus bocados para descobrir o valor e a importância de uma mãe na minha vida. Mas, consegui. Não há palavras que descrevam ou dimensionem a paz interior e a minha felicidade por estar de bem com a minha mãe. Se existe essa tal de felicidade plena, é isso que sinto nesse momento!
E o engraçado é que prestes a finalizar o texto, sou surpreendido aqui no meu quarto com a visita da minha mãe. Acabou de perguntar se estou com sede ou se quero alguma coisa. Só dei uma risada e balancei a cabeça afirmativamente. Como ela leu meus pensamentos, meu Deus? Incrível, não? É coisa de mãe, não adianta. Mal sabe ela da pequena homenagem que resolvi externar ao mundo virtual no dia de hoje. Realmente, sou um sujeito de sorte. Preciso me lembrar disso em todos os dias da minha vida. Faz toda diferença do mundo.
E é justamente nesse contexto, sem maiores delongas, que vou encerrar o presente texto: que me perdoem os pais, mas ser mãe é fundamental.
Feliz Dia das Mães, Mãe! Eu te amo!