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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Pode isso, Arnaldo?

Você pode até não gostar de futebol, mas provavelmente em algum momento da sua vida já leu ou ouviu falar sobre “fair play”, não é mesmo?

A tão propagada expressão “fair play” costuma ser empregada em inúmeras competições esportivas, em especial, no futebol. Em tradução simples, significa o tão almejado “jogo limpo”.


E é nesse espírito do “jogo limpo” que a FIFA organiza suas competições, pune atletas e técnicos que não compartilhem desse ideal, que em sua essência mais primitiva, é sem dúvida alguma, louvável.

Mas, quando se trata de organizar uma edição de Copa do Mundo, o “fair play” é jogado literalmente para escanteio, sendo ignorado justamente por quem deveria zelar pelo desenvolvimento do esporte e reaplicar na ordem global toda a riqueza obtida pela movimentação desse negócio astronômico chamado futebol.

E a esse jogo sujo, a FIFA tem ao longo das décadas contado com o apoio irrestrito de governos locais, em verdadeira parceria nefasta, perpetrando ações nem sempre claras e morais aos olhos dos cegos apaixonados pelo esporte betrão.

Seria cômico se não fosse trágico, mas em minha ingenuidade, eu realmente acreditava que sediar uma edição de Copa do Mundo seria algo de muito bom para o Brasil. Que traria investimentos, criando empregos; que aqueceria a economia em tempos de crise global, além de representar maior conforto aos torcedores que se espremem nos estádios brasileiros em dias de jogo. Isso sem contar outros benefícios de ordem estrutural nas cidades brasileiras que sediariam o evento (transporte, aeroportos, rede hoteleira, paisagismo, segurança).

A esse sopro de esperança, eu incluía minha paixão pelo futebol e pela oportunidade até hoje única de presenciar um evento esportivo desse porte na minha cidade, no meu país, confraternizando com brasileiros de todas as partes do país e conhecendo um pouco da cultura e as pessoas de cada canto do mundo.

Enfim, um sonho que em poucos meses se transformou em pesadelo e motivo de vergonha.

Sediar uma Copa do Mundo talvez fosse a solução ou esperança de dias melhores aos brasileiros em muitos aspectos fundamentais e primários da vida em sociedade.

Talvez fosse assim, se estivéssemos falando de um país sério. Mas, infelizmente, estamos falando do Brasil e de sua já conhecida corja de políticos, dirigentes esportivos e seu povo alienado, ainda em tempos de política do “pão e circo”.

O jogo sujo começou lá atrás, na época de candidatura dos países para sediar a Copa de 2014. Você se lembra de ter lido ou visto em algum lugar a lista de encargos que o Governo Federal se comprometeu a garantir caso o Brasil fosse escolhido? Pois é, então somos dois. O que é de se estranhar, afinal, em uma disputa assim todas as regras são previamente definidas e repassadas aos responsáveis. Se você lê e concorda, você confirma sua inscrição e se sujeita. Caso contrário, você agradece a atenção e inventa para o seu povo uma justificativa qualquer de que um país de terceiro mundo não reúne condições de receber um evento deste tipo.

E a imprensa, por que não divulgou as regras do jogo? Por que não permitiu ao brasileiro o livre arbítrio para decidir se apoiaria ou não a participação do Brasil na disputa pela Copa de 2014? Por que não viabilizou a formação de opinião daqueles que justamente são os principais atingidos pelas decisões tomadas de seus governantes? A quem está interessando isso tudo? Basta dar uma olhada nos sobrenomes de quem estão liderando comitês, ministérios, federações, patrocinadores e empresas no ramo de construção civil, hotelaria e afins envolvidas na organização da Copa do Mundo. São figurinhas conhecidas.

É o que eu costumo dizer, vivemos em plena “ditadura democrática”. O poder e a riqueza concentrados nas mãos de poucos enquanto muitos perdendo a vida por um salário mínimo miserável, incapaz de garantir o mínimo existencial.

Abram alas, esse é o nosso país.

Irônico é perceber que em tempos de informações e documentos obtidos sem maiores dificuldades de inquéritos policiais, em tese, sigilosos, nenhum veículo de comunicação, nenhum jornalista, empresa, fundação ou associação deste país ventilou qual seria o preço e quais seriam as condições que o Brasil precisaria garantir para sediar uma Copa do Mundo.

Venderam-nos o melhor dos mundos. Os estádios seriam todos construídos com o dinheiro da iniciativa privada. Seria uma Copa do Mundo praticamente sem dinheiro público.

E mais uma vez, tudo não passou de jogo político, de promessa de campanha, enfim, de um jogo sujo. “Fair play”, o que é isso?

A realidade hoje é outra. Não sei o número ao certo, mas dos doze estádios que receberão partidas da Copa do Mundo, apenas um ou dois serão reformados com o dinheiro da iniciativa privada. O restante terá a reforma arcada e custeada pelo meu, pelo seu, pelo nosso dinheiro.

Ok, sem problemas. Haverá licitações. Gerará empregos, aquecerá a economia. Em outro país, as chances seriam maiores. Não aqui, nesta pátria de chuteira mal lavada.

Em poucos meses, os projetos de reforma dos estádios simplesmente tiveram seus custos multiplicados e quem está pagando a conta dessa irresponsabilidade somos nós, meus amigos. Com tanto dinheiro escorrendo pelo ralo, há casos de obras paralisadas porque os trabalhadores estão em greve lutando por melhores condições de trabalho e remuneração. Pois é, não basta majorar o valor da obra. Não basta assinar um cheque em branco aos ladrões que gerenciam os projetos. É preciso maltratar os operários, é necessário oferecer salários irrisórios e atentatórios ao princípio da dignidade humana.

Poderia falar do absurdo de se construir estádio para 71 mil pessoas em Brasília (Brasiliense e Gama são as potências futebolísticas da região) ou então de se construir uma arena em Natal (América e ABC são os expoentes do futebol naquela aprazível cidade) ou mesmo em Manaus (onde teremos um verdadeiro elefante branco). Poderia tratar da promiscuidade com que um ex-presidente da república liderou e arquitetou para se construir um estádio de futebol em São Paulo para seu clube do coração com dinheiro público, usufruindo de toda a sua influência, adquirida ao longo de décadas de vida política. Poderia falar dos aeroportos brasileiros, aquém da necessidade de um país como o nosso. Do despreparo com que o setor hoteleiro e outros serviços voltados ao turismo receberão os visitantes do mundo inteiro. Mas, falarei apenas do Rio de Janeiro, da Lei Geral da Copa e do Decreto Presidencial concedendo isenções fiscais até 2015.

A reforma do Maracanã, a terceira grande reforma nos últimos 20 anos, custará algo em torno de 1 bilhão de reais. Isso porque para o Pan de 2007 já foi gasto um valor absurdo sob a alegação de que se estaria deixando o estádio em condições de sediar uma partida de Copa do Mundo. Ainda que os clubes do Rio de Janeiro assumam a administração do estádio depois da Copa (ou então das Olimpíadas), não sei em quanto tempo o Estado vai recuperar (se for recuperar algo, diga-se de passagem) o dinheiro investido, se o custo pela manutenção mensal não inviabilizará sua administração pelos clubes cariocas e se o torcedor que freqüenta o estádio nos campeonatos locais (diferente do torcedor que estará no Maracanã durante a Copa do Mundo) reunirá educação e consciência suficiente para conservação do estádio.

Fico pensando em como 1 bilhão de reais poderiam ser investidos no estado fluminense, principalmente em questões cotidianas. Na melhoria do sistema de transporte, na construção de escolas, verbas em hospitais e universidades, na remuneração melhor de professores, profissionais da saúde, em melhorias no setor de segurança pública, serviços de inteligência da polícia. Digo isso porque para todas essas necessidades, o Estado justifica sua insuficiência pela falta de recursos disponíveis em caixa. Ora, para construir um estádio de futebol superfaturado o dinheiro com certeza não brotou da árvore. O que prova que quando se quer, não há impedimento orçamentário que resista à vontade de se fazer a coisa certa. Se para desviar recursos encontram brechas nos textos legais, com muito menos dificuldades se encontrariam brechas que permitissem uma reviravolta na vida do carioca em seus aspectos fundamentais.

A Copa de 2014 deixará um legado. Mas, não o legado que desejamos, não aquele que poderia ser dado ao brasileiro. O resultado dentro de campo por óbvio vai interessar e ser importante, mas não tanto quanto propiciar uma vida melhor aos brasileiros. No final, seremos os maiores derrotados da Copa do Mundo. E por culpa nossa, absolutamente nossa.

Por sua vez, a FIFA, entidade máxima do futebol mundial, promove ruídos com o Governo Central sobre a Lei da Copa. Em certo ponto, com muita propriedade, afinal, o Governo Brasileiro se comprometeu lá atrás a não criar óbices às condições estabelecidas. Questões de combate à pirataria, à comercialização de produtos licenciados, à venda de cervejas (uma das maiores patrocinadora da FIFA é uma cervejaria), dentre outros aspectos importantes, que ofendem e afrontam a soberania do Estado Brasileiro.

Mas, não menos importante e igualmente revoltante diz respeito ao Decreto 7.578, de 11 de outubro de 2011, que regulamenta as medidas tributárias referentes à realização, no Brasil, da Copa das Confederações FIFA 2013 e da Copa do Mundo FIFA 2014 de que trata a Lei no 12.350, de 20 de dezembro de 2010.
Quem se interessar, pode conferir o teor do decreto no site http://www.planalto.gov.br/.

De parceiros comerciais da FIFA, passando pela própria entidade máxima do futebol mundial, as confederações dos países participantes, as empresas que trabalharão durante a Copa e tudo que direta ou indiretamente estiver envolvido na organização do evento estarão isentas do recolhimento de tributos federais.

Em outras palavras, toda receita advinda de produtos e serviços realizados com a Copa do Mundo no Brasil estarão livres de tributos. No momento em que o Brasil conseguiria recuperar uma pequena parte do investimento feito para receber uma edição de Copa, nossos governantes se acovardam e se submetem aos desmandos da FIFA.

E a dona FIFA, por sua vez, possuidora de bens e de muita riqueza, precisaria mesmo exigir tudo isso dos países-sedes? Por que tanta ganância? Por que não querer compartilhar com o mundo a riqueza obtida com o futebol? Mesmo não havendo mais espaço para guardar tanto dinheiro em contas suíças ou paraísos fiscais, a FIFA, sob a bandeira do “fair play”, pratica um jogo sujo com seus filiados, com os apaixonados pelo futebol. Sim, futebol é um negócio, mas não deveria haver preço no mundo que fizesse alguém vender sua alma ao diabo.

Fato é que a balança está pesando demasiadamente para um lado da relação. E enquanto isso acontece, continuamos sendo manipulados pela mídia, que insiste em vender o sonho da Copa do Mundo perfeita no Brasil. A que preço? Sob quais circunstâncias? Os fins justificam os meios? Valerá a pena? Será com “muito orgulho e com muito amor” que você cantará nos estádios que é brasileiro?

Como se vê, neste caso, a regra do jogo está longe de ser clara.

A FIFA e o Governo Brasileiro, juntos, ignoram as regras mais elementares do “fair play”. E o pior: gozam da complacência e manipulação da imprensa e abusam da alienação da população.

Pode isso, Arnaldo?

domingo, 2 de outubro de 2011

Como se fosse a primeira vez.

Hoje é dia de declaração de amor.

Minhas amigas, vão achar "fofo". Meus amigos, vão me chamar de "manso", dentre outros carinhosos apelidos. Quem não me conhece (afinal, o blog tem recebido visita de todas as partes do mundo), bem, quem não me conhece eu não faço idéia do que pode achar.

Mas, ao final, o que interessa é o seguinte: Eu te amo, "Lucy".

Engraçado, parece um script de filme de cinema. Com todos os ingredientes de um sucesso holywoodiano.

Em outro texto, eu escrevi sobre destino e acaso. E mais uma vez, fui vítima desses "acasos do destino". Que bom.

Por questões de celeridade e astúcia, vou superar a parte pré-namoro. Até porque não conheço ninguém que foi mais feliz em um relacionamento por revelar aspectos do seu passado.
Como disse, o roteiro dessa história renderia um bom filme e um best seller capaz de causar inveja a muito escritor brasileiro.

Senão vejamos.

No início do ano, minha vontade era comemorar meus 30 anos em Las Vegas ao lado de alguns dos meus melhores amigos. Cheguei a começar o planejamento, até que por circunstâncias alheias a minha vontade, me fizeram abortar a "missão". Mas, não havia me dado por vencido. Eu pretendia comemorar bastante a data. Daí, comecei a organizar com amigos e familiares, uma viagem pelo Brasil. Algo curto, três ou quatro dias. Pensei em viajar para Londrina e reencontrar meus tios e primos que moram lá. Para quem não sabe, a noite de Londrina pertence à família. A melhor boate do Brasil é de lá! Mas, retomando a linha de pensamento. Quase na véspera da viagem, o plano foi abortado.

Às vésperas do meu aniversário de 30 anos, reencontrei um amigo de longa data, que havia morado no Canadá por um tempo fazendo o doutorado dele. Há tempos não nos falávamos. Infelizmente, a vida distanciou bastante um do outro. Mas, nunca é tarde para recomeçar. Combinamos de ir ao Ovelha Negra, em Botafogo, no dia 30 de junho, dia que deveria estar em Londrina, ao lado de amigos e familiares, já iniciando as comemorações pelos meus 30 anos.

Quem já foi ao Ovelha Negra, sabe o que estou falando. O lugar é apertado, mas tem um clima diferenciado. Muitas coisas engraçadas e inusitadas acontecem naquele lugar. O público costuma ser bem diferente do restante da noite carioca. Até porque não é todo mundo que curte um espumante ou sabe dos efeitos que isso pode causar...rs.

Já lá dentro, aquilo de sempre: bebendo com o amigo, trocando umas idéias, dando uma "olhada na vizinhança". Tudo normal, do jeito que costuma ser.

Até que em um dado momento da noite (permitam-me, nobre leitor, a encurtar um pouco a história, até porque a noite do Ovelha Negra não é o principal foco do roteiro), vejo aquela mulher sentada na mesa, abandonada pelas amigas, dando sinais de impaciência com o lugar. Pouco antes, já havíamos trocado rápidas palavras, mas nada muito objetivo. Naquela altura dos acontecimentos, meu amigo havia ido embora. Eu estava sozinho. Era a minha chance. O máximo que eu receberia era um "não", como muitos outros em vários momentos da vida. Por que não arriscar, não é mesmo?

Pergunto se posso sentar ao lado dela na mesa. Diante da hesitação, eu resolvo sentar. Me apresento, começamos a conversar. Acreditem, falamos de (quase) tudo. Coisa louca, principalmente quando estamos na "night". Em um dado momento, eu percebo que é hora de "testar" o canal. Seguro a sua mão para ver a reação. Permitiu. Dou um sorriso maroto e prossigo com a conversa. Quando percebo, estamos nos beijando. Gosto do beijo. Gosto da conversa, gosto da pessoa. Vale a pena pegar o telefone e ligar no "dia seguinte" (no caso, mandei um torpedo).

Não sei explicar. Só sei que tudo naquela noite fora diferente. Durante um tempo, convivi com conflitos internos (outros rolos, vontade de querer ficar solteiro, crença de que estudando para concurso não dá para namorar etc.), mas algo me dizia que dali surgiria uma história bacana, mesmo que não fosse uma história de amor. 

Passa um tempo e marcamos de sair. Parecia um adolescente. Comprei roupa nova (ok, tinha passado o meu aniversário e eu não comprara nada para mim), estava nervoso, tenso. Combinamos de sair para um bar no Leblon (em dia de jogo do Flamengo contra o São Paulo, que tortura!). Sentamos numa mesa e começamos a conversar. Parecia outra pessoa. Mais distante, menos receptiva, um tanto fria. De repente, achei que tudo não passara de uma ingênua ilusão da minha parte. Cheguei a pôr em xeque a química que havia rolado naquele dia no Ovelha Negra (afinal, espumante em excesso é foda, parceiro). Mas, a medida que o tempo fora passando naquela noite, a fera ia se transformando na bela que eu conhecera. Que bom.

Nos despedimos.

Nos dias seguintes, algumas rápidas conversas telefônicas e novos programas juntos. E o roteiro de sempre: me sentia um Adam Sandler. Era preciso reconquistar aquela mulher todas as noites, em todos os programas. E não pensem que isso aconteceu somente antes de namorarmos! Não, não mesmo!

Se ao mesmo tempo era desafiadora essa situação, por vezes me questionava se aquilo tudo fazia sentido e se era necessário.

E desde quando o amor faz sentido, Rafael?

E foi mais ou menos neste cenário que começamos o relacionamento. Talvez um pouco precipitado, talvez não. Mas, o diferencial que ambos desejamos isso. Ambos lutamos por isso, superando as diferenças e adversidades. Hoje, ao olhar para trás, tudo isso chega a ser engraçado. Que bom que tenha sido assim. Tornou sólida uma vontade mútua de que o relacionamento dê certo.

A cada dia, uma descoberta. Um pouco mais de dose de amor é lançada relação. Ok, são dois meses. Mas, parece que já dura há mais tempo. Neste período, uma viagem inesquecível a Cancún.

É bom amar novamente. E melhor ainda ter descoberto isso com ela. Minha grande dificuldade com as mulheres foi sentir admiração. E dela, eu sou fã incondicional. Admiro a mulher, a filha, a irmã, a médica, a namorada. E por amor, fazemos tudo. Que o diga os jogos do Flamengo assistidos na casa dela (só vitória. Quando compreendi isso, deixei de assistir em casa ou no estádio e o Flamengo voltou a vencer. Prefiro pensar que não é praga dela, sabe ... hehehe), quando ela se esforça ao máximo para acompanhar meu sofrimento, minha alegria.

Amor é assim. Sem explicação, sem nexo. Simplesmente é assim. Simples e tão complexo. Mas, muito importante.

Que bom que não viajei para Las Vegas. Melhor ainda não ter viajado a Londrina. Que barato ter reencontrado um amigo de longa data aqui perto de casa e ter combinado de ir ao Ovelha Negra, porque lá o "sujeito solteiro é feliz". Que coisa especial de ter me permitido conhecer alguém. Se destino ou acaso, só sei que não poderia deixar de te conhecer, amor. Com você, hoje me sinto mais confiante com os desafios que a vida impõe a mim. Que meus defeitos não se tornem inconciliáveis. Que o Flamengo não nos separe. Que os dias nunca sejam os mesmos. Que você seja sempre a minha namorada, hoje, a minha alma gêmea.

Te amo!

E para finalizar, não me preocupa se serão dois meses, dois anos, duas décadas ou se será "até que a morte nos separe". Viver um dia de cada vez é a melhor coisa que posso fazer. Até porque a vida me ensinou a não esperar por um futuro que pode nunca chegar. Seja como e quanto tempo for, já valeu a pena, pois acabou com antigos paradigmas, traumas e ceticismo da minha parte. Se não chegou para ficar de vez (o que não acredito), o amor veio para me transformar em uma pessoa melhor. Para me lembrar que um relacionamento é algo bom e que a simples existência de uma pessoa é capaz de mexer bastante com você.

O amor renova, o amor purifica, o amor existe.

E tudo isso, como se fosse a primeira vez.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A chatice das redes sociais

Olá, Rapaziada.


Enquanto o sono não chega, resolvi escrever novamente neste blog. Como não houve nenhuma reclamação nos últimos quatro meses, desconfio que ninguém sentiu falta das besteiras que escrevo aqui. Tudo bem, vou confessar que não estava incomodado com a minha aposentadoria precoce na arte da pseudo literatura brasileira.


Mas, por uma questão de pleno gozo do meu juízo mental, optei por ficar com as minhas besteiras a submeter-me a tortura psicológica, moral e espiritual que é acompanhar o Rock in Rio na Globo neste domingo chuvoso. Principalmente em dia de "Metal". Enfim, em tempos de tolerância sexual, a diversidade musical é o menor dos problemas.


O tema de debate hoje é esse fenômeno das redes sociais de relacionamento. 9 de cada 10 brasileiros possuem uma conta no facebook. Até aí nenhum problema. Pelo contrário, em uma era de muito tempo dedicado aos projetos profissionais e pessoais (filhos, relacionamentos etc), em que se sobra pouquíssimo tempo para cultivo das amizades (principalmente depois de terminada a faculdade), esses sites de relacionamentos desempenham verdadeira função social, pois permite ao sujeito ter a sensação de estar sempre perto ou em contato de seus amigos, mesmo que não os veja há meses.


Até pouco tempo atrás, o orkut era um fenômeno tipicamente brasileiro, que foi superado há poucas semanas pelo facebook (sucesso mundial). Não vou adentrar no mérito se estamos enriquecendo os donos dessas empresas, se eles estão nos controlando, acessando nossos dados e tal. A conspiração eu deixo a cargo dos meus amigos botafoguenses. Vou tocar num ponto além disso: o massacre que promovemos nessas redes de relacionamentos, senão vejamos.

Faça a experiência: acesse o perfil de algum amigo seu estrangeiro. Compare. Veja como o brasileiro simplesmente vive para o facebook. O sujeito peida e posta lá. Viu alguém tombar na rua e deixa seu recado. Viaja ou sai para algum lugar ou programa e tira 171 fotos, com a única intenção de "postar no fb e curtir com os amigos". Chega a ser uma mentalidade bisonha, quiçá doentia, não acham? Revela, talvez, um pouco do abismo que separa o brasileiro de sociedades culturalmente mais avançadas, onde não se observa tamanha exploração/manuseio por tais redes sociais.


Experimente ir a um bar ou restaurante. Dê uma olhada ao seu redor. Duvido que não haja meia dúzia de pessoas ignorando as demais pessoas na mesa e ao que está sendo discutido por todos, por estar compenetrada em seus respectivos celulares com acesso ao facebook. Aliás, quem nunca fez isso pelo menos uma vez na vida?


Sei lá, talvez não a nossa geração (ok, a minha, afinal, sou trintenário), mas as que nos sucederão mais a frente estão simplesmente desenvolvendo relacionamentos virtuais. Para que marcar cinemas, chopps, peladas de futebol se podemos "curtir" tudo pelo facebook? Me chamem de velho (algo corriqueiro, aliás), mas prefiro a moda antiga e mais romântica das amizades, "face to face". Porra, eu disse face e não facebook!


Vejam o exemplo recente do Rock in Rio. Nos últimos dias, pipocaram as mensagens de pessoas querendo vender, comprar, trocar ou compartilhar que fulano ou beltrano estava chapado no show e tal. De repente, só se fala isso no facebook. Um saco! Parece que a vida inteligente migrou para outro lugar! Se não já bastassem as quartas e domingos, dias em que somente se comenta sobre futebol (digo também por mim), tem-se agora experimentado o massacre promovido por grandes eventos nacionais e mundiais. Quem não lembra das eleições presidenciais? Durante semanas o que surgiu de especialista político não foi brincadeira. Cada um promovendo suas verdades, seus devaneios (abandonado no dia seguinte à vitória da Dilma).


E mesmo na hora do debate, o brasileiro é pobre e medíocre. Não consegue fazê-lo sem misturar razão e emoção. A quantidade de tolice dita virtualmente é proporcional às merdas feitas no Congresso Nacional, com a chancela do Poder Executivo e a conveniência do Judiciário.


Nessa onda de massacres, verifica-se um desperdício de tempo, de talento e tudo mais. Nossos protestos e observações se restringem ao campo virtual. Exemplo: Corrupção no Ministério do Turismo e no segundo seguinte é lançada uma campanha no twitter "fora fulano", com adesão imediata de centena de milhares de seguidores. Na prática, ninguém vai à rua protestar ou exigir das autoridades uma mudança efetiva.


Nos tornarmos reféns das redes de relacionamentos. Tal como os viciados em álcool e drogas, estamos igualmente adoecidos. Se ao menos as discussões promovessem melhorias em alguns setores da sociedade ou resultassem em transformações significativas em nossas vidas ...


A crítica apresentada acima aproveita a minha pessoa. Não sou diferente de ninguém, tampouco me julgo melhor. Apenas trouxe um ponto de reflexão. O excesso leva à fadiga. E isso certamente é prejudicial ao brilhantismo da idéia trazida por esses sites de relacionamento, que é permitir justamente essa conexão e interação entre pessoas que estão distantes. O massacre diário das mesmices de apontamentos e inutilidade de observações conduz ao abismo esse fenômeno das redes sociais, que tem a sua importância, é claro.


Por óbvio, enxergo nessas redes sociais de relacionamentos grandes benefícios e utilidades no dia-a-dia. Mas, isto tem se tornado exceção à regra das chatices de manifestações apresentadas diariamente pelos usuários dessas redes sociais.


Enfim, fica o protesto. Poderia excluir ou ignorar quem posta ou apresenta esse tipo de comportamento no meu facebook, mas isso atentaria justamente contra a idéia do site de relacionamentos, não acha? Portanto, fica a dica ...


Em tempo (1): não há como esquecer da edição antiga do Rock in Rio. Em especial, dois dias. O dia 18 de janeiro de 2001. Eu não fui "prestigiar" Sandy&Junior, mas me lembro da (tentativa de) ligação que fiz ao meu irmão que lá estava para avisá-lo que tinha sido aprovado no vestibular da UFRJ. Muita emoção e choro pelos dias difíceis então vividos. E no dia 21, último dia do Rock in Rio, pela mais sábia decisão já tomada em minha vida: nunca mais voltar a uma edição do RIR: dificuldade para ir ao banheiro, comprar e pegar bebida, encontrar pessoas no local (200 mil estiveram no dia 21.01.2001), perrengue para chegar e sair da Cidade do Rock. E pelas melecas pretas no nariz. Isso sem contar o desgosto de ver o vocalista do SilverChair fazendo sexo oral com o microfone e o som distante e falho durante o show do Red Hot Chilli Peppers. Ah, e com 2 metros de altura, fui o alvo predileto de garrafas plásticas e outros objetos atirados por populares indignados por eu prejudicar a visão deles ... enfim, Rock in Rio nunca mais! Pelo menos, não no Rio de Janeiro. Há quem goste e me chame de maluco, mas cada um no seu quadrado e viva a liberdade de expressão. Foda-se as disposições em contrário.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

A vida é um concurso

Eu não crucifico, mas vocês pensam que a vida de blogueiro é fácil.
Quem dera.
E o pior é conciliá-la com a vida de concursando (ou seria concurseiro? Na dúvida, usarei os dois. Cansei de procurar toda e qualquer resposta no Google). Aí já é coisa de outro mundo.
Seria até cômico se não fosse trágico, mas outro dia parei para refletir e cheguei à conclusão de que, por exemplo, ir ao supermercado se transformou em verdadeira sessão de terapia nesses tempos de concurso público. Há ou não há algo de muito errado comigo? Acho que já sei a sua resposta ...
Mas, me deixe desabafar um pouco.
No auge da minha crise existencial, quase cheguei a me apresentar voluntariamente em um hospital para pedir para ser internado. Não ria, gente. Estou falando sério. Bom, eu acho que estou. Pelo menos parece, né.
Na minha cabeça, o ápice da insanidade começou na manhã daquela segunda-feira. Havia uma gritaria logo cedo no apartamento ao lado. Era a vizinha que estava dando a luz a um bebê. Rapidamente pus uma bermuda e uma camisa e fui ver aquela cena. Entre sangue, lágrimas e muita alegria de todos que estavam presente, eu só conseguia pensar no seguinte: "Ele respirou? Entrou ar nos pulmões? Opa, então segundo a melhor doutrina que adota a Teoria Natalista, a personalidade começou com o nascimento com vida". Meio transtornado com aquele pensamento jurídico inoportuno para o momento, voltei para casa. Ao retornar ao meu quarto, comecei a ouvir vozes vindas da janela. Eram os operários da obra de recuperação da fachada do meu edifício. Que sujeitos grosseiros e mal educados. Eu queria estudar, pedi para eles evitarem falar alto. Me ignoraram. Lá pela quarta ou quinta vez, eu me levantei da cadeira e aos berros gritei: "Porra negão, vai pro inferno com esse barulho. Fala grosso, seu voz fina de merda. Essa porcaria de obra que não termina nunca, vocês estão superfaturando a porra toda, estão roubando o prédio, seus safados". 10 minutos depois e a polícia batia aqui na minha porta. Perguntaram o meu nome e eu respondi: "Prazer, Eliseu Drummond, funcionário da Telerj". Maluco, eu? Jamais. O STF em algum informativo desse ano livrou a cara de um sujeito que na delegacia se recusou a dar o nome correto dele. Segundo os juristas, encontra-se na esfera da auto-defesa a conduta de se recusar a fornecer o próprio nome às autoridades policiais ou dá-lo incorretamente. Com isso, julgaram a conduta atípica e soltaram o mané. Mas, isso é na teoria né malando, porque na prática, "educadamente", me conduziram à delegacia. Racismo, calúnia, injúria, difamação, nem lembro mais do que o inspetor me falou que eu tinha cometido. Na minha cabeça eu sabia que aquilo não daria em nada. Sou péssimo em penal, mas afastando o racismo, todos os demais delitos eram de menor potencial ofensivo. Seria lavrado um termo circunstanciado, eu não seria preso e no Juizado Especial Criminal aceitaria alguma medida despenalizadora para trancar a ação. Pagaria algumas cestas básicas ou cumpriria alguma medida restritiva de direito e nada mais. Sequer apareceria na minha FAC aquilo. Mas, no final das contas, os sujeitos resolveram aliviar pro meu lado e não foram adiante com a reclamação. Sorte a deles. E que no dia seguinte ficassem calados trabalhando!!!!
No entanto, rapaziada, o dia estava longe de terminar. Foi só chegar em casa e comecei a ouvir minha mãe reclamando no meu ouvido pelo show que eu proporcionara aos vizinhos. Ainda tentei argumentar, mas ela não permitiu. Ela com certeza nunca ouviu falar em ampla defesa e contraditório, muito menos na presunção de inocência. Estado Democrático de Direito só existe da porta para fora da minha casa. Aqui dentro, a regra é clara: olho no olho, dente por dente, sem reexame necessário. Mãe é uma só, sabe como é né ... tem que respeitar! Como castigo, fui obrigado a pagar as contas no banco. E o pior, com o meu dinheiro. Chegando na agência, em pleno dia 10, a fila era quilométrica! Logo me veio à cabeça uma lei (que nunca ninguém viu o número, os artigos ou banco sendo responsabilizado pelo seu descumprimento) que vedava a espera na fila por mais de trinta minutos. Eu já estava preparando o cenário para uma ação indenizatória e assim garantir o meu carnaval em Salvador em 2012, mas ... a mulher do caixa me chamou. Sacanagem! No meio de tanta conta, duas me chamaram a atenção: a anuidade da OAB e a taxa de incêndio. Só conseguia imaginar que a primeira, segundo decidiu o STJ, não tem natureza tributária. Logo, a OAB jamais poderia ajuizar uma execução fiscal contra mim! Ao contrário da taxa de incêndio. E com essa percepção, vieram todas aquelas idéias de prerrogativas da Administração Pública, a natureza sui generis da OAB (diferente de todos os demais conselhos de classe profissional). Quando vi, já tinha pago tudo. Era hora de retornar pra casa, tomar um banho e ir assistir aula no cursinho.
Dito e feito. No caminho até o Centro, fui de ônibus. Aliás, seria isso mesmo? No meio da Presidente Vargas, o ônibus colidiu com outro veículo, fazendo com que vários passageiros se machucassem em seu interior. Enquanto muitos choravam, xingavam ou permaneciam atônitos, eu só me lembrava da responsabilidade objetiva do transportador e das inúmeras ações indenizatórias que eu ajuizaria como advogado daqueles passageiros. Naquela altura, eu já estava convicto de que algo não estava legal dentro de mim. Tudo, absolutamente tudo que eu fazia, via ou ouvia logo fazia um link para algum tema jurídico. Que merda.
Depois do susto, enfim consegui chegar ao curso. Aula de direito do trabalho. Isso mata qualquer um, menos a mim. Eu adoro (percebam, eu não disse que sei direito do trabalho, apenas gosto de estudar e assistir aula dessa matéria). A aula termina e volto para casa. Antes, vou à lanchonete para comer um salgado e beber uma coca. Mas o preço, onde está? É relação de consumo, onde estão a transparência e a informação? O consumidor é parte vulnerável! Era óbvio que o lanche não cairia bem no meu estômago.
Enfim, estou em casa. É hora de descansar, assistir HOUSE na tv. Mas, antes, vou acessar os meus emails, vai que a mulher da minha vida me escreveu dizendo que estava com saudade e queria me ver? Nada disso, o que tinha mesmo era email oriundo do STJ e STF com os malditos informativos. Mais coisa para ler e estudar. O email da mulher da minha vida ficou apenas na imaginação, mas de repente é até melhor, pois imagina se eu case, tenha filhos e lá na frente as coisas dão erradas, um de nós morre, como fica? Direito de Família, Sucessões ... chega! Vou dormir, amanhã será um novo dia ... um novo dia em que o Direito teima em não me deixar em paz! Socorrooooooooooooooooooooooooooo!
Brincadeiras à parte, nem sempre as coisas foram assim. Houve um tempo em que tudo parecia ser mais fácil. As responsabilidades eram outras, os problemas também. E olha que não faz tanto tempo assim e que não estou falando da época do colégio!
Você pode achar que não, mas até os sonhos têm um preço, afinal, para cada escolha que você faz na vida, algo é renunciado por você. E comigo não foi diferente quando ao me aproximar dos 30 anos, vislumbrei um novo projeto, ou simplesmente um novo horizonte na minha vida. Horizonte este que me garantisse, no mínimo, trinta dias de férias por ano, boas noites de sono, uma aposentadoria honrosa e de repente, quem sabe, uma qualidade de vida infinitamente melhor e mais tempo ao lado de filhos que ainda não tenho e esposa que sequer imagino ter um dia. No início, pareceu loucura. Trocar o incerto pelo potencialmente certo. Mas, vou te confessar algo: difícil não é tomar a decisão de largar a vida de advogado e se dedicar aos estudos. Difícil mesmo é você se manter firme nesta decisão depois da primeira dificuldade ou frustração de um projeto ou ambição que até ontem era tangível, palpável.
A sociedade é bastante injusta. Parece dá valor apenas a quem trabalha e trata com desdém àqueles foram em busca de seus sonhos. A gente percebe nos olhos da pessoa que te pergunta o que você faz vida e você responde: "estou estudando para concurso". Faz parecer inclusive que você é um criminoso. Não entra na minha cabeça a idéia de que um sujeito pode chegar a uma altura da vida e aceitar a idéia de ser improdutivo. No fundo, todos querem se sentir úteis, não é mesmo? Às vezes, dá vontade de responder ao sujeito: "você acha que eu não faço nada? Você acha que estudar é pouca coisa? Vá se fuder, filho da puta!" Além de estudar horas em casa, aturar horas de aula com professores esquisitos que lecionam matérias insuportáveis (e por incrível que pareçam, gostam dessa merda), quebrar a cabeça para entender os posicionamentos transloucados do STJ e STF a cada semana e entender as sessenta e nove correntes doutrinárias sobre um mesmo tema, o concurseiro ou concursando deve-se preocupar ainda em ser um bom filho, irmão, namorado, pai, amigo, torcedor fiel ao seu time de futebol, fazer compras no supermercado, pagar as contas no banco e interagir com o mundo. E você ainda acha pouco o fato dele "só" estudar? Perdoem Senhor essas pobres almas. Eles não sabem o que estão falando.
Perto de completar 1 ano da decisão mais importante da minha vida depois da escolha do meu time de futebol, eu olho para trás e consigo enxergar progressos. O caminho adiante ainda é longo e no decorrer do percurso sofrerei com os seus traiçoeiros espinhos. Só que não entrei nessa jornada para perder, meu bom rapaz. Não preciso ser o primeiro a passar. Basta passar. E lembrem-se, para cada queda, eu me levantarei ainda mais forte e convicto. Para cada obstáculo superado, o suor do meu esforço medirá o grau da minha felicidade e o nível da minha confiança. Para mim, nada é impossível. Alguns desistem no meio do caminho. Outros, recompõem suas energias e seguem firmes até o final da estrada. Para o alto e avante. Sempre. Sugiro que você faça o mesmo. Procure se conhecer melhor. Identificar seus pontos fracos, seus limites, suas qualidades, seus pontos fortes. Não queira começar abraçando o mundo. Antes, é preciso conquistar alguns continentes. Seja um franco atirador, mas jamais deixe de ser protagonista na sua própria vida, beleza? E não se esqueça de me convidar para o evento da sua posse, porque o da minha já estão todos convidados desde já!
Vou terminar por aqui. Não gostou do texto de hoje? Ótimo, me processe, afinal, todo candidato dos principais concursos públicos da área jurídica precisa comprovar a tal da maldita prática jurídica, logo te encontro na sala de audiência ... fui!
Em tempo: os exemplos jurídicos narrados no texto decorrem de imaginação do autor, ou seja, não reportam situações verdadeiras, tampouco a opinião do blogueiro sobre determinado assunto ou pessoas. Tudo pela poesia literária, cacete!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Obra do Destino ou do Acaso?

O que acontece em nossas vidas é obra do destino ou do acaso?
Desculpe-me cortar o seu barato, mas a resposta a essa pergunta está além da compreensão humana. Tudo que for dito aqui se resumem a meras suposições, de quem a cada segundo formula argumentos razoáveis para cada um dos lados. Não sei bem como te dizer isso, mas é provável que você só tenha certeza mesmo depois que morrer. Agora, se Deus não existir, você vai morrer e continuar sem saber a resposta. Difícil, né?
Um religioso dirá que tudo que acontece em nossas vidas decorre da vontade divina, previamente estabelecida. Em sentido contrário, existirão pessoas que rechaçarão essa idéia, sob o argumento de que não seríamos meramente marionetes de terceiros, sendo o livre arbítrio e a fatalidade (ou acaso, como preferirem) condutores dos sucessivos e distintos rumos que a vida da gente toma ao longo dos anos.
Quem está certo e quem está errado? Como disse, eu não tenho a resposta. Mas, posso falar um pouco de cada um desses dois extremos.
Por mais cético, racional e ateu que você possa ser, é inegável que em diversos momentos da sua vida foi possível enxergar a presença de Deus, ou ao menos invocá-la. Talvez, a dificuldade dos homens em compreender a fé e a religião resulte justamente em visualizar Deus em sua essência humana. E a teimosia em querer racionalizar e equacionar como se tudo fosse uma grande fórmula matemática também afasta bastante o homem de Deus e das respostas às perguntas que ainda não foram respondidas. Tudo seria tão mais fácil se aceitássemos a idéia de que certas questões prescindem de respostas ou esclarecimentos. Estão ali para serem somente vividas e não compreendidas.
Não adianta relutar: a história da sociedade caminha de mãos dadas com a religião. Diria até se tratar de algo cultural, que se transmite de gerações a gerações. Presumir a existência de uma entidade superior responsável pela vida em suas mais variadas concepções não é algo tão absurdo. E isso é um passo para aceitar que essa tal entidade possa interferir e ser diretamente responsável por tudo que te acontece. Não tente negar o óbvio, você pode até não acreditar em Deus, mas ainda assim carrega dentro de si uma fé em compasso de espera para ser testada e explorada em algum momento da sua vida. Com sinceridade, me responda: se você estiver dentro de um avião que está prestes a cair no Oceano Atlântico, o que faria? Jura? Verdade? Olha lá, hein. Bem, 9 entre 10 pessoas que responderem essa pergunta dirão que, entre lágrimas, gritos de desespero e promessas de amor eterno, rezariam a Deus e pediriam perdão por seus erros e que protegesse seus entes queridos.
No entanto, hoje você pode ter amanhecido de mau humor depois de ter dormido de calça jeans a noite inteira e só de sacanagem vai contrariar tudo o que eu disser. Tudo bem, é direito seu, embora eu não goste muito dessa coisa de ser contrariado e dessa tal democracia débil que detona a vida da gente todos os dias. Mas, por amor ao debate, vamos defender o outro lado, que não necessariamente é o lado negro da força, ok?
Mas e se nada que acontece em nossas vidas decorrer de algo pré estabelecido? Se tudo for resultado de nossas escolhas em conjunto com o acaso, com a fatalidade? Trilhar esse caminho é fazer da imprevisibilidade um aliado ou um inimigo impossível de ser compreendido, superado ou derrotado.
Quem defende essa posição não pode ser muito afeto à idéia, por exemplo, de que "fulano é o amor da minha vida" e coisas do gênero, afinal, nunca se sabe o dia de amanhã. Se você não acredita em destino, o dia de amanhã é imprevisível, por mais que a rotina te enclausure. Tudo é possível, meu caro. O acaso te força a tomar decisões que você não tem como dimensionar as consequências e os desdobramentos. Mas, te confere liberdade para ir atrás de seus sonhos, de atrair ou repulsar coisas e pessoas de perto de você. Além disso, o acaso permitiria novos e sucessivos ciclos e reinícios ao longo da vida. Há a célebre frase : "a cada escolha, uma renúncia". Por trás de toda escolha, pessoas e lugares se afastam, outras se aproximam, momentos e sentimentos se misturam. E uma nova vida é simplesmente vivida, experimentada. Ademais, estas escolhas seriam frutos de experiências particulares de cada um, não seguindo qualquer lógica, não havendo que se falar em certezas.
Comigo, em apertada síntese, teria funcionado assim: minha mãe é nordestina, meu pai é capixaba. Meus avós paternos eram libaneses e somente se conheceram no Brasil, no interior do Espírito Santo. Nasci no Rio de Janeiro no bairro do Grajaú, mas minha vida inteira morei na Tijuca. Estudei em colégio católico e por várias vezes errei o "Pai Nosso". Já chorei, briguei, agradeci e rompi com Deus. Já fui um aluno exemplar, mas cheguei a ser suspenso no colégio por confusão com um grande amigo na aula de Educação Física. Contrariando o biotipo e o histórico familiar, sempre pratiquei esportes. Comecei com o judô, passei pela natação, fugi do volêi e pelos centímetros a mais, resolvi jogar basquete. Por conta do vestibular, abreviei minha carreira esportiva. Comecei o 3º ano como candidato à faculdade de Medicina e terminei entrando para o curso de Direito. Adorava a Candido Mendes Centro, onde me tornei representante de turma, fiz amigos, ganhei título como atleta do basquete, vivenciei coisas novas. Até que meu pai teve câncer novamente. Larguei tudo, resolvi estudar de novo. O coroa se foi, mas passei para UFRJ. Conheci meus melhores amigos lá. Fui padrinho de alguns e outros serão os meus. Achei que seria delegado, me tornei um advogado. Logo no primeiro estágio, ganhei um amigo para toda a vida, meu primeiro chefe. Pouco tempo depois, em uma manhã ensolarada de um domingo qualquer caminhando pelas ruas da Tijuca, reencontrei um amigo querido da época do basquete que trabalhava em um grande escritório de advocacia. Mandei currículo, fiz prova e de repente estava em outro estágio. Voltei a jogar basquete pela faculdade. Perdi jogos, ganhei partidas, xinguei e fui xingado. Amigos e inimigos aos montes. Na época que mais desejei e gostei de estar solteiro, encontrei alguém que estagiava do meu lado. Amei como nunca amei alguém. Larguei o estágio para me dedicar aos estudos. Na semana seguinte consegui um outro estágio. Um mês depois fui contratado. Monografia em uma semana, OAB em três dias, mas formei e me tornei advogado. O amor chegou ao fim, rompi, sofri, chorei, sobrevivi. Renasci, recomecei. Viajei, conheci lugares e pessoas, namorei outras vezes. Amei e fui amado. Odiei e fui ainda mais odiado. Larguei tudo e a todos. Engordei. Perdi cabelo, envelheci. Vivi, fui feliz. Refleti e decidi: ano novo, vida nova. Meu Deus, como tudo que aconteceu comigo pareceu seguir uma lógica, ainda que imprevisível e inusitada. Mas, em cada capítulo desse uma lição, um aprendizado, um traço de Deus eu pude perceber. Tomei decisões algumas vezes, em outras tomaram por mim. Quando não dava nada por algo ou alguém, me surpreendi. Naquela noite que eu não queria sair, conheci pessoas especiais. As viagens que tinham tudo para não acontecer, aconteceram. Novos caminhos, novas opções, novas portas e uma grande experiência. Eis a vida, única, essencial. O amanhã é apenas um novo dia. Um dia para novas decisões, novos caminhos. Acaso e destino nunca me causaram medo. Medo mesmo eu tenho de passar por aqui e não deixar um legado, ainda que seja para o filho que um dia pretendo ter.
Em outras palavras, o acaso seria tão somente uma espécie do qual o destino é gênero. Eita, falei difícil e complicado! Merda. Explicando (ou tentando): de repente o cara lá em cima escreveu inúmeros capítulos para nossas vidas, compostos de diferentes alternativas já pré-estabelecidas, cabendo ao homem escolher por qual porta entrar e qual caminho seguir ao longo da vida. E que tais escolhas provocariam os acasos que nos deparamos diariamente em nossas vidas. É uma tese, apenas uma tese, nada mais do que uma tese. Ninguém precisa me indicar ao Oscar ou ao Prêmio Nobal de Personalidade do Século XXI por isso. Se bem que a idéia não seria tão ruim ...
Mas, enfim, a escolha deste tema não foi a toa. Diria que precede um momento particular de reflexão. De "A a Z", mil coisas passam pela minha cabeça todos os dias. Como a maioria sabe, eu sou 8 ou 80. A monotonia cansa e me deixa angustiado. Logo, gerar conflitos, por incrível que isso pareça, me traz o conforto necessário que preciso. Estranho, não? Bastante. Mas reparem no meu drama: ao acordar ontem, tinha outros planos para o meu domingo. Ir ao cinema sequer passava pela minha cabeça até o meio da tarde. Mas, acabei indo. Só que assistir "Agentes do Destino" não era a minha opção número 1. E mesmo assim o fiz. Por conta dos estudos, tinha programado escrever só no fim desta semana aqui no blog, porém o estou fazendo em plena segunda-feira. Terá sido por acaso ou coisa do destino? Acho que nunca saberei ...

domingo, 8 de maio de 2011

Um tributo a minha mãe

Hoje é domingo, Dia das Mães. A essa altura dos acontecimentos, você já escolheu o presente dela, já retornou daquele almoço de família e com certeza deu um beijo e um abraço carinhoso na sua mãe. Se ainda não fez isso, vai por mim, esqueça o presente e o almoço, mas não deixe de beijá-la e abraçá-la. Acredite, as mães se realizam com gestos simples de carinho e amor.
Como o leitor já pôde perceber, o blog hoje irá se aventurar nesse tema. Tarefa das mais difíceis para quem a biologia não deu um voto de confiança. Aliás, se Deus de fato existe, é um sujeito bastante inteligente, afinal, conferiu à mulher a responsabilidade (mas, sem dúvidas, uma verdadeira dádiva) de gerir uma nova vida. E essa escolha não foi por acaso. Só carregamos aquilo que podemos suportar. Ora, ninguém aqui duvida que um homem não suportaria a dor no parto, o primeiro sinal de enjôo, as alterações no próprio corpo, amamentação, trocas de fraldas, choros intermináveis pela madrugada, dentre tantos outros itens do "pacote", não é mesmo? Começo a desconfiar de que na verdade ... Deus é Deusa! E que nenhum católico fervoroso leia isso aqui, pois não gostaria de me juntar a João Calvino, Fidel Castro, Juan Domingo Perón, Miguel de Cervantes na lista dos excomungados pela Igreja Católica...
Talvez fosse mais fácil escrever hoje sobre futebol, sexo, drogas e rock n´roll. Talvez. Mas, o apelo hoje é outro. E em respeito a todas as mães do Brasil e do mundo, em especial, a minha, tentarei escolher as palavras certas que me permitam ao final ter a certeza de que consegui prestar uma singela homenagem a ela.
Por obviedade, eu jamais saberei o que é ser mãe. Mas, como filho sei reconhecer a importância de ter uma perto de mim. Há pouco mais de 10 anos, perdi meu pai. Em contrapartida, perto dos meus 20 anos, ganhei a chance de novamente estreitar os laços que unem um filho a sua mãe.
Admito, não foi fácil no início. Brigas, discussões, afastamento, rejeição. Quando se é muito jovem, não temos maturidade suficiente (nem vontade) para lidarmos com certas coisas. Partimos da premissa que ela deve estar sempre ali, disponível e forte, pronta para nos atender. Não é assim que as coisas funcionam. Apesar de heroínas, nossas mães são seres humanos iguais a gente. A juventude cega os nossos olhos. O futuro aparenta se revelar além do horizonte. Há aquela sensação de que tudo pode ser corrigido amanhã. E que um pedido de desculpa resolve tudo. Não, isso não é verdade. Esqueçam isso. Palavras se perdem ao vento; seus gestos e suas atitudes dirão no futuro quem você foi e o que você fez.
E por muito tempo, fui um sujeito medroso, escroto e deveras egoísta, a ponto de só pensar em mim, não me preocupando com ela. E foi assim que durante anos, covardemente nunca me coloquei na posição dela, de tentar entender o seu sofrimento, a perda do marido. Eu tinha minha faculdade, meus amigos, minha vida. Quem ela tinha? As vezes, lembrar de certos momentos me envergonha muito, faz com que eu me sinta o pior dos homens. Sinto uma raiva de mim muito grande.
Junto com a queda do cabelo e o envelhecimento do corpo, os anos a mais te proporcionam experiência para conduzir melhor a sua vida. E esta te dá uma segunda chance para reescrever aquele capítulo que não estava legal. E quando isso acontece, você não repete seus erros (as discussões até acontecem, mas em patamares razoáveis, sadios).
Da relação com a minha mãe, descobri que ser mãe é amar sem exigir nada em troca. É perdoar incondicionalmente. É se alegrar de suas conquistas (mesmo não fazendo a mínima idéia do que estas representam ou possam ser), é ter sempre um conselho na ponta da língua. É ter um pedaço considerável dela dentro de você. Por mais que você rechace essa idéia, no fundo, com pequenas variações de temperatura e pressão, somos um pequeno produto de nossos pais, de nossa educação, de nossas experiências. Com ou sem defeitos, não amá-los significa desprezar um pouco do que você é. "Honra teu pai e tua mãe", como bem ensina um dos dez mandamentos.
Já dizia o poeta que no meio do caminho havia uma pedra; havia uma pedra no meio do caminho. É verdade. No meu caso, existiram centenas delas. E mesmo assim, não foram suficientes para tirar a mim e a minha mãe do caminho certo (a felicidade). Enquanto "lutávamos" cada um por si, era impossível avistar o que havia além das pedras. Mas, a partir do momento que nos demos as mãos e voltamos a ser uma coisa só (família), afastamos as dificuldades e reencontramos o tesouro perdido além das pedras (o amor, a felicidade).
Hoje, domingo, Dia das Mães, é dia de agradecer por tê-la comigo. É dia de pedir por saúde para prolongar por muitos anos a presença dela ao meu lado. É dia de renovar os votos de mãe e filho, de estreitar ainda mais os laços de amor que unem desde a minha concepção. É dia de carregá-la no colo e dizer: "mãe, estou aqui. Sempre. Juntos, eu e você, você e eu. Obrigado por tudo". É dia de relembrar momentos marcantes da minha vida e descobrir que na maior parte deles, ela estava ali do meu lado, me incentivando, me educando, zelando por mim, amando-me.
Ao fazer isso no dia de hoje, me questiono: como não amar a minha mãe se é justamente aquela que diariamente suporta sempre com um sorriso e um carinho o meu habitual mau humor, as minhas crises existenciais, os meus conflitos com o mundo?
Como não amá-la pela escolha dela de trocar o Botafogo pelo Flamengo depois de tantos anos simplesmente para ter mais momentos ao meu lado em dias de jogos do Mengão? Pelas lágrimas de alegria e tristeza depois de cada conquista rubro-negra?
Difícil não amar quem enche o pulmão de ar para dizer aos quatro cantos do planeta o orgulho que sente por ter filhos como eu e o meu irmão, como?
Como não amar quem abdicou de sua vida profissional para poder dedicar mais tempo da sua vida com a minha educação, com o meu bem estar, com o meu crescimento?
Como não amar e agradecer àquela pessoa que escolheu o colégio onde eu estudei? Como não amar essa mulher que diariamente me levava para os cursinhos de inglês, treinos de basquete, natação, judô?
Como não amar quem se preocupa comigo quando estou gripado, lesionado ou simplesmente quando viajo e fico sem dar sinal de vida?
Me sinto um pouco incomodado pelo trabalho que dou a ela, afinal, ela se responsabiliza pelas minhas refeições praticamente todos os dias, pelas roupas limpas e bem passadas, por agendar meus médicos, por quebrar todos os galhos que eu preciso. Vivo pedindo para ela não se preocupar, para não fazer, mas você acha que adianta? Ela me "desobedece". Diz que faz por amor, que faz para eu me preocupar exclusivamente com os meus estudos e ir atrás dos meus sonhos. Como não amar uma pessoa assim? Aliás, o meu combustível que alavanca os meus estudos hoje começa e termina na idéia de dá-la uma vida ainda melhor e que, juntos, tenhamos ainda milhares de momentos juntos, de alegrias e comemorações. E que nos dias ruins, possamos permanecer unidos, protegendo e cuidando um do outro. Afinal, somos uma família, somos filho e mãe, mãe e filho. E tem sido assim na história da humanidade nos últimos milhares de anos.
Agora, a pergunta que não quer calar: meu Deus, por que ela fez e faz tudo isso para mim? Simples. Porque ela é mãe. Porque em algum dia do passado, ela jurou me amar e cuidar de mim para todo o sempre. Porque não importam os obstáculos, as provações e que eu tenha quase 30 anos. Para ela, serei sempre aquele garotinho indefeso, aquela criança que ela ensinou tudo e que carregou nove meses na barriga. É rapaziada, serei sempre o filhinho da mamãe, o mais velho, aquele que fez dela mãe. Isso não deve ser pouca coisa. Graças a Deus.
E nesse Dia das Mães, uma revelação: vivo o melhor momento da minha relação com ela. Poucas vezes me senti tão conectado a ela. Foi preciso perder um pai e passar por maus bocados para descobrir o valor e a importância de uma mãe na minha vida. Mas, consegui. Não há palavras que descrevam ou dimensionem a paz interior e a minha felicidade por estar de bem com a minha mãe. Se existe essa tal de felicidade plena, é isso que sinto nesse momento!
E o engraçado é que prestes a finalizar o texto, sou surpreendido aqui no meu quarto com a visita da minha mãe. Acabou de perguntar se estou com sede ou se quero alguma coisa. Só dei uma risada e balancei a cabeça afirmativamente. Como ela leu meus pensamentos, meu Deus? Incrível, não? É coisa de mãe, não adianta. Mal sabe ela da pequena homenagem que resolvi externar ao mundo virtual no dia de hoje. Realmente, sou um sujeito de sorte. Preciso me lembrar disso em todos os dias da minha vida. Faz toda diferença do mundo.
E é justamente nesse contexto, sem maiores delongas, que vou encerrar o presente texto: que me perdoem os pais, mas ser mãe é fundamental.
Feliz Dia das Mães, Mãe! Eu te amo!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Viver é amar


Em plena sexta-feira da paixão, resolvi deixar de lado os livros jurídicos para tentar escrever algo que preste aqui no blog. Em um primeiro momento, pensei em falar sobre a inconstitucionalidade dos feriados no Brasil, afinal, somos um país laico. Mas convenhamos, a quem interessaria ler ou defender essa tese? De repente, só Judas mesmo.
Esqueçamos Judas, até porque esse aí reencarnou em cada argentino que existe neste planeta. Mas fiquemos com parte do simbolismo da Páscoa, tudo bem? Muitos aprenderam desde pequeno no colégio que Jesus, em um ato inequívoco de amor, sacrificou sua própria vida para salvar a humanidade, não foi? Calma gente, não estou instigando suicídio em massa neste espaço, pelo amor de Deus! O que eu quero mesmo é falar de amor, algo que nos acompanha muitas vezes em período anterior a nossa própria concepção, ok?
Inicialmente, pensei em falar de amor dos pais em relação aos seus filhos. Depois, em amor entre amigos, irmãos ou mesmo com o time de futebol do coração. Talvez em outro momento. Hoje, quero falar sobre o amor entre um homem e uma mulher (ok, se por acaso algum leitor for da coluna do meio, não se sinta desmerecido, basta trocar as palavras e compreender o real sentido da mensagem, beleza? Não quero nenhuma ONG ou Associação de Defesa das Relações Homoafetivas caindo de pau em cima de mim. A uma porque esse negócio de pau cair em cima de mim não é comigo. Segundo porque defendo a necessidade de se reconhecer o direito das minorias, terceiro porque estamos em um regime democrático, então meu/minha caro(a) GLS, há de se respeitar também a opinião alheia, seja ela contrária ou não à causa que você defende. De uns tempos para cá, ser tradicional é quase cometer um crime. Enfim, isso é assunto para outro texto do blog).
Por que duas pessoas se amam? Destino? Acaso? Sorte? Necessidade? Medo? Um pouco disso tudo? É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo? É possível trair quem a gente ama? É possível viver mais de um "grande amor"?
Muitas indagações, muitas reflexões, poucas respostas, nenhuma certeza. Ao contrário do tema "por que os homens traem?" que em breve lançarei aqui no blog, nesse texto, vou tentar compartilhar a minha experiência e opinião sobre o amor, tomando um cuidado para que o lado machista não fale mais alto. Deixarei as espadas de Jorge de lado e entrarei de corpo e alma no tema. Vamos ver que bicho vai dar (só não podem ser a zebra e o veado rs ...).
Eu já disse isso em outra oportunidade aqui no blog, mas volto a repetir: acho que o sentido maior de duas pessoas se amarem é poderem, juntas, compartilhar momentos de suas vidas umas com as outras. Alegrias, tristezas, decepções, conquistas, realizações, mesmo que seja por semanas, meses, anos, décadas ou uma vida inteira. Embora condenados a viver em sociedade, somos um animal essencialmente solitário. No outro, buscamos um sentido diverso à vida, muito além da idéia de reprodução e continuidade da vida. Nos braços ou nos ombros de quem amamos, encontramos um significado, um motivo para cada dia levantarmos de nossas camas e tocarmos com coragem nossos caminhos.
Ninguém nasce e cresce para viver na mais pura solidão. Embora eu discorde dessa idéia de alma gêmea (afinal, sentimentos humanos são volúveis, oscilando a cada estação do ano), reconheço a importância de ter uma pessoa ao nosso lado. O amor se traduz em gestos simples, porém eternizados em nossas lembranças. Desde o torpedo de madrugada até aquele carinho espontâneo e natural depois de uma noite de sexo, fato é que ao se amar alguém, você de alguma forma se conecta com aquela pessoa, passa a ser e ter um pouquinho dela dentro de você. Duvido que alguém que leia esse texto realmente ache e queira para si uma vida sem ninguém ao lado. Isso contraria a ordem natural das coisas, atenta contra a nossa própria natureza.
Óbvio que dependendo da época da vida que você se encontre, amar alguém não é um objetivo, um desejo ou uma missão. Pelo contrário, parece ser uma idéia de gente fraca, velha ou que vive em um mundo a parte, não é? De qualquer maneira, até mesmo as pessoas solteiras deveriam de verdade saber a importância de se viver bem e feliz estando solteiro ou sozinho. Isso faz parte do amadurecimento para amanhã se estar com alguém, tornando a relação possível e êxitosa (e não hesitosa, minha gente).
Não posso dizer de como eram as coisas no passado. Em tese, não estava vivo. Tampouco posso prever o futuro (o que me deixa chateado pela impossibilidade de acertar nos números da mega sena), mas posso falar de como as coisas são no presente. A maior parte das pessoas durante uma vida ama de verdade duas ou mais pessoas. É um ciclo que parece ser viciante, com início, meio e fim. Muitas vezes, a dor parece não querer cicatrizar e mesmo assim, depois de um certo tempo, o indivíduo se lança novamente em outra relação. Incrível o poder de auto flagelo do ser humano. Mas, possivelmente, o sujeito só se predispõe a isso porque amar e ser amado é algo necessário a todo mundo. Quem não vive melhor ao perceber que é amado por outra pessoa? Isso em qualquer nível de relação humana (filho, amigo, pai etc).
O amor é combustível e receita de uma vida melhor. Você pode ter dúvidas sobre a sua fé, temer o dia seguinte à morte, mas, em relação ao amor, você admite que mesmo atentando muitas vezes contra a sua felicidade, ele é indispensável.
Particularmente, é difícil tratar desse assunto hoje em dia. Há muito, meu coração permanece indiferente. Não quer dizer que eu não goste ou tenha gostado de alguém que passou pela minha vida. Longe disso. Contudo, além das dificuldades naturais impostas pela vida, a barreira do objetivo profissional ainda reduz esse meu ímpeto em mergulhar de cabeça em um novo amor. Mas eu sei que ele (o amor, porra) anda por aí, caminhando perdido a espera de um tropeço das minhas razões. Duelo de titãs, mas o final será feliz para todos os lados. Eu tenho certeza disso.
Depois dessa pseudo confissão, para muitos um autêntico desabafo ou jogada de marketing (a crítica pega pesado comigo, vocês não fazem idéia. Fora os patrocinadores, chatos toda vida!), vou prosseguir falando sobre o amor.
Muitas vezes, ele vem por acaso. Você já conhece determinada pessoa há tempos e nunca se interessou por ela. Até o dia em que, entre uma rodada e outra de cerveja, vodka ou uísque, você se deixa envolver. Um abraço, filho. Já era. Engraçado que em mais uma ocasião, já ouvi de pessoas justificando a outras a impossibilidade de terem algo mais sério porque a outra parte era amiga, gente boa, mil e uma qualidades. Ora cara pálida, então o negócio é dar chance para filho da puta, mau caráter e repleto de defeitos? Faça-me o favor né.
Há ainda aqueles casos inusitados. O indivíduo decide não sair de casa naquele dia porque está sem dinheiro e/ou disposição. Está de pijama quando toca o celular e do outro lado da linha surge aquele convite para um programa furada lá onde Judas perdeu as botas (esse Judas é um sujeito estranho mesmo ...). Depois de receber mil e uma ameaças, é convencido a acompanhar o amigo ou a amiga. Você vai para um lugar que não faz o seu estilo, mas justamente naquele dia, ali por volta da metade da noite, você esbarra sem querer perto da fila do banheiro com uma pessoa que desperta sua atenção (e que de repente está ali na mesma furada que você). Trocam meia dúzias de palavras e pronto, rolou afinidade e meses depois, vocês estão namorando, apaixonados e cada um com um amigo do lado se vangloriando de terem sido os padrinhos da relação.
Não esqueçamos daquela viagem que você cancelou ou marcou aos 45 do segundo tempo. Sem nenhuma expectativa, você vai para algum lugar que até dias antes sequer imaginava que fosse estar. E quis o destino que uma pessoa passe justamente naquele momento pela sua vida. Você se encanta, faz juras de amor. Volta apaixonado e achando graça de tudo.
Engraçado que para cada situação acima narrada, consigo lembrar de alguém em especial. Se é assim comigo, é assim com todo mundo! Admitam, admitam!
Claro que tem também situações mais comuns. Quem nunca teve um amigo ou uma amiga que em alguma noitada em boate, em algum chopp ou mesmo em alguma festa, não te apresentou um amigo ou amiga dizendo que era alguém "super a ver com você"? Ou então, no auge da sua solteirice, em pleno carnaval, você encontra uma pessoa bacana e que em seguida se transforma em um relacionamento firme e forte? Ah, lembrei, preciso dizer também daqueles relacionamentos que começam no ambiente de trabalho? Onde se ganha o pão não se come a tarde, você vive escutando isso. Pois é, mas, a questão é: quem consegue controlar o amor?
Na vida, um amor nasce, desenvolve-se e em muitas oportunidades, morre com o tempo. Depois renasce, alguns com alguma "doença congênita", outros ainda mais intensos. O que não se pode fazer é se trancar para ele. É impedir sua entrada em seu corpo, em sua mente. É não acreditar que amor só é sinônimo de lágrimas, decepções e tristezas. É confiar que o amor é muito mais que brigas, crises de ciúmes ou puramente sexo. O amor está em um patamar acima disso tudo. Aliás, o amor é gênero do qual os demais sentimentos humanos são espécies.
Amar não tem fórmula ou receita. Não há manual. Cada relacionamento tem suas próprias peculiaridades. É preciso um auto conhecimento, uma certa dose de coragem porque nem sempre o caminho é feito de pétalas de rosa. Morreremos por amor, morreremos de amor, morreremos sem saber ao certo como lidar com o amor. Mas, que em algum ou em vários momentos da vida possamos experimentar o amor.
Quanto menos tempo o homem se dedica ao amor, mais sobra a ele para gastar com guerras, com violências e demais mazelas que atormentam as sociedades desde os tempos mais primórdios.
Um homem falar de amor pode ser um tabu. A vida está cheia deles. Falar de amor não torna ninguém melhor ou pior, talvez mais humano. Desperdiçamos oportunidades ao longo da vida de exteriorizar esse sentimento a alguém. Não se iniba. Força, coragem, vamos guerreiro!
Seja sincero consigo e comigo: você prefere viver uma vida inteira sem alguém para amar ou viver parte dela com um ou vários amores? Deixe o orgulho de lado e responda abaixo com sinceridade. Ao menos uma vez na vida seja sincero com o amor, ok?
Lembranças de noitadas e farras homéricas se perdem pelo caminho. A experiência de um amor se perpetua em você para sempre. Lembre-se disso. Afinal, para amar, basta estar vivo. Viver é amar. Amar é viver.
A todos, um "eu te amo", obrigado e Feliz Páscoa!

domingo, 17 de abril de 2011

Eu, tu, ele, nós ... bullying?



Ok, vocês venceram. Tenho que admitir, fiquei sensibilizado com a demonstração de carinho do público ao longo das últimas três semanas em que nada foi postado aqui nesse blog. Chateados com o meu sumiço, os leitores enviaram centenas de emails para minha caixa de entrada pedindo que eu retornasse do meu exílio virtual. Confesso que esse apelo popular mexeu bastante comigo, por isso gostaria de agradecê-los por tudo. Difícil mesmo tem sido suportar a pressão dos patrocinadores e a distância que sinto de vocês.
Antes de começar a escrever o texto de hoje, segue uma nota de explicação para o meu sumiço. Não me dei férias, tampouco ganhei na loteria, muito menos se tratou de uma jogada de marketing, quiçá uma retirada estratégica. Chega de teoria da conspiração. Não foi nada disso. Além da tradicional falta de inspiração, nesse período eu fiz duas pequenas viagens a Florianópolis e Belo Horizonte, além de ter iniciado uma nova turma preparatória para concurso público, na qual tenho desempenhado a função de monitor. No final das contas, tem me sobrado pouco tempo livre para escrever. Uma pena, pois mesmo não sendo um Paulo Coelho da Tijuca, meus textos vinham sendo lidos por pessoas em todos os cantos do mundo, segundo estatísticas (pouco confiáveis) daqui do blog. Sinceramente não sei como será daqui em diante, até porque o foco hoje está nos livros e códigos jurídicos. Quanto antes eu resolver essa pequena grande chateação profissional, mais tempo terei no futuro para me dedicar ao blog e outros projetos pessoais, por ora, engavetados.
Mas, vamos ao que interessa. Mais uma vez, adiarei a postagem sobre o tema da traição masculina. A julgar pelo recorde de acesso daquele texto "Afinal, o que querem os homens?", esse tratando, ainda que supercialmente, das razões que levam o homem a trair certamente será um sucesso de crítica e navegação. Podem me cobrar. De repente daqui uma ou duas semanas, quem sabe.
Hoje falarei sobre esse tal de bullying. Impressionante como de uma hora para outra o mundo descobriu essa palavra. Tornou-se um fenômeno, virou moda inclusive falar sobre o tema, não é mesmo?
Segundo o tradicional Wikipedia, bullying é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos, com o objetivo de intimidar ou agredir outro indivíduo incapaz de se defender.
Antes de qualquer decisão precipitada acerca da minha opinião sobre o assunto, gostaria de esclarecer que sou contrário a qualquer ato de violência física ou psicológica em desfavor de qualquer pessoa. Estou longe de ser um estudioso sobre o assunto, mas não entra na minha cabeça que alguma vítima de bullying possa ser mais feliz que uma pessoa normal. E como de fato não faz ninguém mais feliz, há a preocupação dos efeitos maléficos que isso possa causar no sujeito, certo? Desde suicídio até mesmo a massacres ...
Mas, incomoda bastante é que de um tempo para cá tudo virou bullying. Haja psicólogo no mundo, haja terapia. Tem muito oportunista de plantão querendo seus 15 minutos de fama às custas do sofrimento alheio. As pessoas têm generalizado muito sobre o assunto.
Em relação à violência física, não há muito o que se dizer. Mas, será que toda manifestação verbal pode ser enquadrada como um ato de violência psicológica? Se eu tenho um amigo botafoguense e passo a vida inteira zombando dele pelo "chororô", pela falta de craques e títulos do time dele, eu terei praticado bullying? Pelo menos, em tese, eu teria na espécie a ocorrência desse fenômeno, afinal, um botafoguense é incapaz de se defender diante de um flamenguista, não é verdade? E ao zombar um botafoguense, o faço com a intenção de intimidá-lo, até porque a zoação não seria completa se não tivesse justamente esse condão de diminui-lo, certo? Imagino então as atrocidades "bullyiangas" que eu já perpetrei contra vascaínos e tricolores. Inclusive, desconfio que o meu tempo no purgatório será um pouco mais prolongado que a média das pessoas neste planeta, a não ser que as autoridades superiores, tal como a CBF, a Globo, a imprensa e a FIFA, sejam igualmente rubro-negras. Enfim ...
A questão é que as vezes tenho a sensação de que padecemos de uma grande inversão de valores. E a partir da generalização que fazemos das coisas, prejudicamos aqueles que realmente são vítimas, por exemplo, desse sério problema. Isto é, para uma pessoa verdadeiramente vítima de bullying na escola, no trabalho, no clube, na faculdade ou até mesmo pela internet, enumeramos outras 10 que supostamente são vítimas e perdemos a oportunidade de debater e tratar o assunto da maneira como se deveria.
Na minha opinião, a evolução da sociedade tem trazido graves conseqüências, tais como enfraquecimento da família como uma instituição, a crise da educação, a banalização de valores morais e uma incrível capacidade de enxergar problema onde não existe. Perde-se tempo, dinheiro e energia tratando de assuntos secundários. Me chamem do que quiser, mas até que me convençam do contrário, vou morrer fiel aos meus princípios. Vejam só, gente do céu, outro dia vi na televisão uma reportagem sobre personalidades/celebridades que foram vítima de bullying. Porra, até o Obama estava na lista. É o desfavor que a mídia faz de vez em quando ao invés de procurar soluções. Opta-se pelo sensacionalismo. De repente, dá mais dinheiro. O sujeito vê a reportagem e até ali nunca tinha pensado em bullying na vida, sequer sabia o seu significado. Mas sai de perto da TV convicto de que é vítima do sistema e já procura o cartão de algum advogado para ir atrás dos danos morais na Justiça. E o foco se perde.
Há de se separar as coisas. Existe distinção entre zombação e agressão psicológica. Concordo que pode ser uma linha bem tênue, mas não se pode generalizar, caramba. Porque ao se fazer isso, banaliza-se o problema, como hoje acontece, vez que em conversas de bar, nas peladas ou até mesmo pela internet, literalmente se faz graça desse sério problema social.
Não parei para pensar em soluções. Criminalizar essa conduta? Tornar um problema de saúde com necessidade de monitoramento e acompanhamento? Incentivar o revide? O que você acha disso, leitor? Bullying é um problema social ou um modismo do século 21? Quem aqui já foi vítima de bullying? Conte o seu caso, libere sua angústia. Quem sabe, não consegue uma ajuda? Vá em frente, tente!
Ah, confesso que esse longo período sem escrever me deixou sem paciência, sem muita capacidade crítica e baixo poder de organizar idéias e desenvolvê-las. Esse lance de estudar para concurso ainda acaba comigo! Não escrevi 1/3 do que gostaria sobre o assunto, mas, estou oxigenando meu cérebro, ligando as turbinas. Peço desculpa ao leitor. Vou terminar por aqui mesmo, ok? Boa semana a vocês!
Vou colocar um vídeo que se tornou febre mundial sobre o assunto. Valeu, Pequeno Zangief!http://www.youtube.com/watch?v=4ADhcxFDIG0

domingo, 20 de março de 2011

A minha segunda chance


Até hoje, quando olho para essa foto, não acredito como escapei com vida daquele acidente. Definitivamente, não era a minha a hora. Levei muito tempo para entender ao certo tudo que acontecia na minha vida naquele momento.

Mas, se eu tivesse que resumir, te diria que naquela madrugada do dia 25 de maio de 2001 eu ganhei de Deus uma segunda chance para recomeçar a escrever minha história aqui na Terra, para completar com êxito a minha missão.


Foram dias, meses, anos bem difíceis. Fazia pouco mais de cinco meses que eu perdera o meu pai. E apesar da aprovação no vestibular da UFRJ no início daquele ano, o trauma experimentado no ano anterior eram bem visíveis. Vivia um momento muito conturbado em casa, brigas diárias com a minha mãe, uma relação um pouco distanciada com o meu irmão. Era tudo muito triste e difícil. Estar em casa era um verdadeiro martírio. Você não se sentir bem na sua própria casa é muito complicado e desesperador. Injustamente, eu despejava toda minha revolta e raiva em cima da minha mãe e do meu irmão. A fortaleza do ano anterior se transformara em uma pessoa arredia, explosiva e que se julgava capaz de viver isolado, sem carinho e amor.
Naquela noite, houve uma festa de recepção dos calouros da UFRJ em uma boate na Barra da Tijuca, que hoje não existe mais. E você que já foi calouro um dia na vida, sabe que não se perde evento algum nessa época de faculdade, não é mesmo? Comigo não foi diferente. Fui de carro, levando comigo quatro colegas de turma da faculdade. Teria sido somente mais uma festa universitária. Mas, mesmo sob os riscos da tragédia que poderia ter acontecido, aquela noite acabou sendo um diferencial na minha vida.
Antes de você pensar besteira ao meu respeito, meu consumo dentro e fora da boate se resumiu a um refrigerante e metade de uma caipirinha que dividi na ocasião com a minha namorada da época. Não que em outras oportunidades do passado eu não tenha assumido riscos desnecessários ao volante, mas naquele dia eu estava tranquilo.
Vou resumir a história e poupar vocês de vários detalhes do acidente e os desdobramentos, pois o objetivo do texto é falar da segunda chance que recebi de Deus e não dar IBOPE ao acidente propriamente dito, ok?
Pois bem, voltemos ao texto. No caminho de volta para casa (deixando antes os meus colegas em suas respectivas residências), de madrugada, ao passar pelo cruzamento entre duas famosas ruas em Copacabana, meu carro foi acertado por uma Ranger, provocando o aludido acidente. Rapidamente, fomos socorridos pela unidade do Corpo de Bombeiro em Copacabana e encaminhados à emergência do Hospital Miguel Couto. Todos com vida, graças a Deus, embora com algumas lesões que exigiram bastante cuidado de todos nós.
Acordar na emergência de um hospital, desorientado, com dor e sem saber se os seus colegas estão vivos e se o seu quadro clínico inspira maiores cuidados médicos é desesperador. Mas, não há coisa pior que ouvir sua mãe desesperada chorando a poucos metros de você, tendo sido acordada no meio da madrugada com uma ligação informando que o filho dela sofrera um acidente de carro e que estava sendo levado para o hospital. Juro, não desejo isso a ninguém.
E foi justamente nesse momento que percebi a intervenção divina na minha vida. Do Miguel Couto, fui transferido para um hospital particular. Pelo pouco que lembro, havia uma certa preocupação dos médicos com a hemorragia cerebral e o traumatismo craniano que eu tinha, razão pela qual fui submetido a um exame, pouco antes de dar entrada no CTI.
Dentro daquela câmara ou algo do gênero, um filme da minha vida passou pela minha cabeça. Naqueles poucos minutos, consegui refletir sobre tudo que estava acontecendo comigo. Lembro bem de ter chorado bastante durante o exame. Não lágrimas de dor pela dor na cabeça, pelo ferimento da perna, pelos ligamentos rompidos do ombro esquerdo ou pela fratura na coluna cervical. Era por todo o sofrimento que o meu comportamento estava causando a quem eu tanto amava: minha família. Ali percebi que estava fazendo absolutamente tudo errado. Estava falhando como filho, como irmão, como amigo, como ser humano. E o pior: descumprindo uma das promessas que fizera ao meu coroa pouco antes dele falecer.
Lembro como se fosse hoje. Naqueles minutos realizando o exame, a única coisa que eu pedia a Deus era escapar com vida, com saúde para não dar trabalho a ninguém da minha família. E que se ele me desse uma segunda chance, eu faria tudo diferente dali em diante. Nos minutos que se sucederam aquele pedido, eu rezava. E rezar ali significou muito a mim, pois desde que soubera que meu pai estava acometido de metástase, eu me afastara de Deus. Minha fé sucumbiu na primeira dificuldade. Mas, eu perdi perdão ao cara lá de cima. E rezar durante boa parte do exame me deu uma paz, uma tranquilidade, uma certeza de que eu seria merecedor de uma segunda chance.
Pouco depois, ouvi de algum médico que o resultado havia sido positivo, que não havia maiores razões para preocupação. Fora só um susto. E que susto. Eu escaparia daquele acidente sem maiores problemas (embora até hoje sinta dores na coluna e desconforto no ombro esquerdo, mas porra, estou vivo).
Daquele dia em diante eu começava uma nova vida. Completamente diferente daquela que estava vivendo até ali. Claro que eu voltei a pisar na bola algumas vezes com o povo daqui de casa, óbvio que eu errei em outras oportunidades com o mundo. Sou humano, porra. Mas, aquele acidente foi importante para mim. Me aproximou de Deus e da minha família. Novamente me sentia amado. Ganhei um voto de confiança da autoridade superior. Veja, três dias depois eu saí do CTI e do quarto do hospital, vi o Pet fazer aquele gol de falta e o Flamengo conquistar o tricampeonato estadual sobre o Vasco da Gama, vulgo Colina do Mal. Sinal de que as coisas estavam mudando mesmo, e para melhor. De vez em quando eu sonho com o meu anjo da guarda brigando comigo, desesperado querendo se aposentar. Coitado, eu já dei muito trabalho ao safado. Tomara que nos assuntos celestiais haja adicional de periculosidade nesse tipo de atividade. Advogados ...
E mais, pensando aqui comigo, reparem, nessa minha segunda vida, quantas pessoas especiais eu conheci? Quantos momentos inesquecíveis conquistei? Quantos sentimentos experimentei? Quantos lugares conheci? Quantos novos capítulos da minha vida eu escrevi? E muito de tudo isso eu devo àquele acidente, porque na verdade, eu vejo que ele representou uma dádiva na minha vida, embora isso possa parecer macabro a vocês. Não tenho vergonha de dizer que todos os anos na data de aniversário do acidente, eu celebro. Celebro a vida, os bons momentos, a segunda chance que ganhei.
Toda vez que por algum motivo eu fico chateado ou desiludido com a vida, eu faço questão de lembrar daqueles momentos. A dor se converteu em esperança. O sofrimento em alegria. As vezes, infelizmente, precisamos perder algo ou alguém para darmos valor. Senti isso na pele. Literalmente.
Portanto, hoje quando você for se deitar, reflita um pouco sobre a sua vida. Sobre as suas atitudes, sobre as oportunidades. Não pense que você está só. Não se julgue acima do bem e do mal. Todos nós, absolutamente todos, precisamos de carinho, de gente para amar e nos amar. É o sentido da vida, ter com quem compartilhar seus sentimentos, suas conquistas, suas alegrias e tristezas. Nunca é tarde para começar de novo ou reconhecer um erro. Lembre-se que o amanhã pode nunca chegar, que um idiota pode avançar um sinal de trânsito em alta velocidade e abreviar sua história aqui na Terra. A felicidade começa e deve ser construída a partir de agora e não amanhã. Chega de relegar ao futuro o que precisamos para sermos felizes no presente. Não são todos que recebem uma segunda chance. Eu tive a minha vida e estou fazendo por onde. Uso como combustível para os meus sonhos. E você?
O mundo quer saber ...

quarta-feira, 16 de março de 2011

Meu pai, meu herói

Hoje é um dia especial para o blog. É dia de falar sobre um herói. Mas não falarei de qualquer herói. Trata-se do meu herói. Meu pai, o maior de todos os heróis.
Todo mundo na vida tem um herói. Alguns possuem vários. Graças a Deus, eu tive o meu pai. Exemplo de homem, de amigo, de filho, de profissional, de ser humano, de marido, de pai. É óbvio que tinha defeitos, quem não os tem? Mas suas virtudes simplesmente anulavam os seus defeitos.
Até começar esse texto, pensava em escrever sobre a dor da despedida e todo sofrimento experimentado naqueles doze meses de hospital no ano de 2000. Mas, talvez não fosse justo com o meu coroa, afinal, se há algo que sempre vem a minha mente quando penso nele é a imagem dele com um sorriso no rosto. Assim, seria muita covardia da minha parte escrever um texto em que eu provocasse angústia, dor e sofrimento nas pessoas. Não seria uma homenagem que eu gostaria de fazer ao meu velho. Ele não merece isso e meus leitores também não.
Lá se vão pouco mais de dez anos que ele faleceu, vítima de câncer. Para quem pensa que o tempo faz você esquecer as pessoas, eu digo: é mentira. O tempo ameniza a dor, a saudade, aquele aperto no coração. Mas não te faz esquecer quem você ama. Na verdade, com o tempo, você se adapta à nova realidade, pois, a vida continua e ninguém vai passar a mão na sua cabeça. É preciso seguir em frente. No entanto, quando se ama alguém, parte desse alguém continua e continuará sempre existindo dentro de você. O amor transcende a morte. O amor desafia a despedida. O amor supera o tempo. Imaginar uma vida diferente disso é pactuar com a tristeza, com o vazio, com o nada. E tenho a certeza de que ninguém nasce e passa uma vida inteira querendo ser uma ausência de sentimentos, desejos e realizações. Não serão dozes meses de dor e muita tristeza que apagarão outros 204 meses de muito amor e alegria.
De coração, espero que as palavras aqui redigidas de alguma forma sensibilizem àqueles que por algum motivo, não estão aproveitando a oportunidade de conviver e conhecer melhor seus pais. Claro que a vida muitas vezes é ingrata, exigindo de você um baita esforço e dedicação com os estudos, trabalho e afins e por vezes, você acaba tendo pouco tempo para desfrutar da companhia do seu pai, não é mesmo? Mas, a partir de hoje, isso será diferente. Ao ler esse texto, você está assumindo o compromisso comigo de dar um abraço bem forte no seu coroa, um beijo de respeito na testa e dizer a ele: "pai, eu te amo". Se você quiser realmente me deixar muito feliz, convide-o para sair, tomar um chopp, jantar. Faça algo diferente. Quebre barreiras, deixe o orgulho de lado. A vida é uma só. Nem sempre é possível ter uma segunda chance. Pense nisso. Gostamos muito de complicar as coisas. Neste programa com o seu pai, faça revelações da sua vida, mate sua curiosidade, pergunte coisas que você nunca perguntou a ele. Seja criativo e original. Te garanto, é um barato. Você conhecerá uma nova pessoa.
Bem, superado o compromisso acima, permitam-me falar um pouco sobre o meu herói. Ele nasceu no interior do Espírito Santo e no início de sua adolescência veio morar com a mãe e os três irmãos no Rio de Janeiro (perdeu ainda criança o seu pai). Formou-se em Engenharia Mecânica. Dizia ser torcedor do América do Rio, mas no fundo, era um rubro-negro. Se não era, passou a gostar do Flamengo por minha causa (mesmo moleque, lembro-me perfeitamente bem de uma vez no Maracanã quando ele comemorou um gol do Mengão muito mais que eu). Abriu uma sociedade com dois grandes amigos e depois de muito tempo trabalhando como engenheiro, passou a trabalhar na sua própria empresa.
Não tinha habilidade e gosto em praticar esportes. Mas sempre quis e fez com que seus filhos praticassem os mais diversos deles. Na verdade, gostava mesmo era de comer. Meu Deus, como adorava beliscar as mais variadas guloseimas. Qualquer nutricionista fracassaria perto dele! Não fumava, bebia pouquíssimo (o gosto pela bebida eu devo ter pego de algum tio). Onde quer que estivesse, era bem recebido e tratado com muito carinho. Até hoje, não conheci uma pessoa que não gostasse do meu pai. Se existem pessoas que não gostavam dele? Claro, ninguém é unanimidade, nem Jesus Cristo foi. Mas, não soube de alguém que lhe detestasse.
Mas, a pergunta que não quer calar: por que ele era o meu herói? A resposta é muito fácil. No meu pai, vejo o exemplo de homem, filho, marido, amigo, profissional e de pai que quero para minha vida. Nos melhores e nos piores momentos desta, sempre mirei o seu exemplo para resolver os meus problemas. Há um pouco dele no meu irmão, na minha mãe, em mim. Ou seja, a morte não fez apagar a presença do meu pai. Ele sobrevive e existe até hoje dentro da minha família. E talvez, se menor tivesse sido a sua influência, essa família hoje não existiria, estaria separada, desunida.
O que torna um sujeito herói de alguém? Vejam o meu caso. São coisas simples. Começa pela alegria de ouvir o barulho da porta de casa, indicando que seu pai chegava do trabalho. Aquele abraço e beijo gostoso, a conversa sobre as novidades na escola e no clube. Impossível ainda não lembrar daquela viagem a dois feita a Friburgo quando criança, ensinando sobre os sinais de trânsito e sobre como dirigir nas estradas. Jogar futebol no campeonato do colégio e ver que o treinador do time era o seu pai. Jogar basquete pelo Tijuca e olhar o coroa na arquibancada dos ginásios, onde quer que fossem os jogos. Era acordar domingo de manhã e ver as corridas de F1 juntos. Era madrugar para disputar quem leria o jornal do dia seguinte primeiro. Era acompanhá-lo na visita à vovó Aurora nas manhãs de sábado. Era perguntar sobre qualquer coisa e sempre ter uma resposta. Era ajudar no cultivo da horta criada na casa de praia. Momentos que formam uma infância, uma adolescência, uma vida. E em todos eles, sempre presente a figura paterna. Sempre um conselho, uma observação, um elogio, um carinho. Tem coisa melhor que isso?
Pai, meu querido e amado pai. A saudade é imensa. O senhor continua fazendo muita falta aqui. Obrigado por todo carinho dado. Eu sei o tamanho da minha responsabilidade no futuro de ser para o meu filho, o pai que o senhor foi para mim. Porque sei a importância e a diferença que um pai presente, carinhoso e amigo faz na vida de um filho. A vida pode ter encurtado a nossa história, a nossa convivência, mas seus ensinamentos, o seu amor, tudo isso viverá para sempre dentro de mim e nas gerações futuras de nossa família. Você é o cara!! Te amo, porra!
Talvez não haja mais nada a falar nesse momento. Apenas refletir e relembrar de todos os bons momentos vividos. Perto deles, a dor e a separação parecem não existir, nada significam. No fundo, gostaria de escrever melhor ou redigir outros textos sobre o coroa. De repente na data do aniversário dele. É que fica a sensação de que não foi suficiente tudo o que escrevi acima, de que não consegui homenageá-lo. Difícil falar sobre o amor de um filho para seu pai. Nessas horas, a emoção prejudica um pouco pois me impede de raciocionar melhor, de concentrar naquilo que realmente quero falar. Peço desculpas ao leitor. Nem sempre é possível fazer o melhor. Mas, falar sobre o meu pai me deixa feliz, ameniza um pouco a sua ausência física. Enfim ...
Assim, termino este texto, com o link para a música que o meu pai mais gostava de ouvir em seus momentos de reflexão. Impossível não me emocionar até hoje quando a ouço. Chega a dar um aperto um pouco mais forte, mas a certeza de que tudo acontece na vida por um propósito e a convicção de que tive o melhor pai do mundo, me ajudam a suportar o momento. Pai, te amo, essa música é em sua homenagem! Eu e você, você e eu, juntos, até o fim! http://www.youtube.com/watch?v=frD6vZnc_54 !