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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Obrigado, Papai Noel



Querido Bom Velhinho,

        Imagino que o momento não seja o melhor para escrever uma carta, afinal, nesses dias que antecedem o Natal o senhor certamente está dedicando toda sua energia para atender milhões de crianças, que ansiosamente aguardam a sua chegada.
            Prometo ser breve.
           Faz um tempo desde a última vez que escrevi para o senhor. Talvez não se lembre de mim, mas, vou tentar refrescar sua memória.
Há 14 anos, poucas semanas antes do Natal, escrevi uma carta completamente desesperado ao senhor, implorando pelo único presente que me importava naquele momento.
Infelizmente, meu pedido não foi atendido. Tive o pior Natal da minha vida. O senhor sabe perfeitamente disso.
Durante um bom tempo me perguntei por que o senhor tinha se esquecido de mim e se eu tinha feito algo de errado. A falta de resposta me sufocou durante anos.
A verdade é que eu me senti abandonado pelo senhor, justamente no momento em que mais necessitava ganhar um presente de Natal. E logo o senhor que até ali sempre me dera os melhores presentes que uma criança poderia receber.
O brilho do Natal, que durante anos iluminava o meu coração esvaiu-se na escuridão que tomou conta de mim durante um longo inverno.
Embora eu não fosse mais uma criança, eu ainda era jovem demais para entender.
No afã da juventude, passei a detestar o Natal, que havia se tornado um marco anual da minha tristeza e infelicidade.
O senhor pode não acreditar, mas, revoltado, cheguei a traçar um ousado plano para encontra-lo no Polo Norte e fazer um acerto de contas. Mas, além de dinheiro, faltou-me coragem.
Porém, com o passar dos anos, as coisas foram mudando. O tempo, senhor de tudo, tratou de cuidar das feridas e suavizar a minha dor. Os fios de cabelo branco (ou o que restou deles) trouxeram um pouco de sabedoria e os anos a mais me permitiram encontrar as respostas que sempre procurei.
Demorei a perceber, mas, enfim, sei que estiveste sempre ao meu lado. E, mesmo sem pedir, continuei a ser presenteado em todos os natais. A raiva me cegou, mas o amor me libertou!
E em relação aos presentes, esse ano, sem dúvidas, o senhor caprichou.
Ganhei o maior e melhor presente da minha vida. O filho que sempre quis ter. O papel (de pai) mais aguardado desde aquele Natal. Se eu pudesse escrever um roteiro, não teria escolhido um tão perfeito como este que o senhor me deu.
Há seis meses presenciei o milagre da vida. Mudei minha definição de amor. Revi meu conceito de amor felicidade. Desabrochei a faceta paterna adormecida há 14 anos, protagonizando desde então o capítulo mais especial de minha existência e vendo diariamente meu maior legado crescer diante dos meus olhos.
Por isso, neste Natal, eu não quero te pedir nada. Apenas te agradecer por tudo e te dizer que este Natal será o primeiro de uma nova era, de um novo ciclo, igualmente feliz como aquele que se encerrou há 14 anos.
A minha alegria por este Natal é tão grande que ousei o seguinte: vou me fantasiar de Papai Noel e divertir a criançada este ano. Espero que o senhor não fique chateado, afinal, Natal é época de alegria, de amor, de perdão, de recomeço, de vida, de família reunida. E também de rabanada!
Por essa o senhor não esperava, não é mesmo? Quem diria...
Feliz Natal, Papai Noel! Obrigado por tudo!
Com carinho,
Rafael Murad


terça-feira, 8 de julho de 2014

Descanse em paz, fantasma de 1950

Depois da derrota para França na Copa de 2006, eu achava que não voltaria a ficar com tanta raiva e tristeza diante de uma derrota da nossa seleção.

Mas, a de hoje foi cruel. 
 
Pois, o povo querendo ou não a realização de Copa do Mundo aqui, indignando-se ou não por conta de obras superfaturadas, observando o uso político do evento e tendo ou não orgulho de ser brasileiro como profetiza a música mais odiada dos estádios brasileiros, queria ser campeão do mundo em casa.
 
A derrota hoje atingiu o ego de um povo que se orgulha pelo que representa no futebol mundial, por suas lendas futebolísticas e pela reverência que o planeta bola há meio século confere ao futebol brasileiro.
 
A decadência de nossos clubes de certa forma é amenizada pelo sucesso de nossa seleção. Fizesse sol ou chuva, estivesse bem ou mal a economia, enfrentando ou não as deficiências seculares de nosso país, no final das contas, o brasileiro sempre teve o orgulho de encher o pulmão de ar para dizer: "somos o Brasil, o país do futebol".
 
Porém, hoje não. Amanhã, talvez.
 
Sobre a Copa do Brasil, sem dúvidas, foi um sucesso dentro de campo e nas arquibancadas, ainda que com os percalços no meio do caminho e a expectativa frustrada quanto às falsas promessas e melhorias em aeroportos, sistema de mobilidade urbana etc. 
 
Mesmo assim, acredito que os turistas estrangeiros saiam do país com lembranças inesquecíveis e isso por si só é muito bacana (mas insuficiente para um Brasil que queremos). A Copa também foi um sucesso pelos gols, pelos jogos, pelo evento em si, ainda que com um penúltimo capítulo muito triste.

Sobre o fatídico jogo, fato é que ninguém gosta de ser humilhado em casa. 
 
Infelizmente, a Alemanha foi um convidado bem folgado e que sequer nos deu a chance de vislumbrar uma final histórica no Maracanã no próximo domingo.
 
O que tivemos foi um resultado atípico pela elasticidade e pelo que representam as duas seleções na história do futebol. Ouso dizer inclusive que jamais teremos a oportunidade em qualquer canto do mundo de revidar ou apagar o jogo de hoje. Será uma mancha que carregaremos até o dia do juízo final.
 
Na minha opinião, experimentamos em doses homeopáticas uma franca decadência de nosso futebol, incapaz de acompanhar a evolução tática e técnica de outros centros futebolísticos. Alguns resultados pontuais contribuem para mascarar mazelas que há anos atormentam a organização interna e externa de nosso futebol.
 
A diferença residirá na forma como iremos absorver e encarar a derrota histórica de hoje.
 
Paramos no tempo e estamos presos à conceitos ultrapassados. 
 
Se antes a técnica bastava, hoje ela não sobrevive sem inteligência, força física, mental e muito estudo/treino. 
 
E não exagero quando falo sobre isso, pois com certa frequência, temos observado vizinhos na América do Sul eliminarem nossos times em competições internacionais sem maiores dificuldades (embora com folha salarial até dez vezes inferior), empresários cada vez mais ricos, salários a jogadores e treinadores que atentam contra realidade sócio-econômica do país e que não se traduzem em futebol bem jogado dentro de campo.
 
Uma minoria se aproveita da ignorância do povo para manter o sistema do jeito que é hoje. Nos principais veículos de comunicação do país não se discute nem se propõe melhorias. À história do futebol brasileiro sequer é dada a chance de se reinventar. 

Não se trata de cultuar o complexo de vira-latas. Mas, hoje, devemos aprender com o resto do mundo como jogar o futebol praticado no planeta. Da preparação à forma de jogar individual e coletivamente. E no curso deste aprendizado, dar o toque brasileiro, que sempre nos diferenciou do restante do mundo do futebol.
 
Chega de multiplicar cada vez mais a cultura oca de endeusamento midiático de jogadores sem história no futebol e sem comportamento que os torne verdadeiramente heróis como pressupõe a terminologia, pois isso contribui apenas para decadência de nosso futebol. 
 
Neste contexto, vale a reflexão sobre o papel da milionária CBF no futebol brasileiro, a responsabilidade de dirigentes na condução do esporte no país, a atuação de empresários, as leis direcionadas aos torcedores, clubes e jogadores, a qualidade de nossos treinadores e profissionais do futebol, a formação de nossos atletas etc.
 
Enfim, projetar um legado positivo diante da mais vexatória derrota de todos os tempos de nosso futebol.

São muitas questões a serem debatidas e mudanças a serem estruturadas daqui em diante. Conseguiremos? Não sei. Tentaremos? Também não sei. Pois, se o futebol for mesmo o retrato fiel da política do país, com os velhos caciques de sempre servindo-se do poder para enriquecer às custas da paixão alheia, a derrota hoje ao invés de ser um marco para reconstrução do modelo de futebol no país será "apenas" um acidente de percurso, sem maiores consequências.

Assim, neste 8 de julho de 2014, já saudosista, me despeço em definitivo do fantasma de 1950, que durante décadas assombrou e habitou o imaginário de milhões de brasileiros, nascidos ou não naquela tarde no Maracanã. 

Descanse em paz, Maracanazzo.


sábado, 21 de dezembro de 2013

A vida em 365 dias

O que dizer deste ano?



Para muitos, um ano como outro qualquer.

Mas, para mim, sem dúvidas, um ano especial, talvez um dos melhores que já tive.

E olha que a expectativa sobre ele era quase que nula.

Na verdade, se você me perguntasse há um ano o que eu esperava ou queria de 2013, minha resposta seria simples e objetiva:

"- Eu quero ter saúde, viver e aproveitar todos os momentos ao lado daqueles que eu amo".

Mal comecei a escrever e lágrimas escorrem pelos meus olhos, confirmando a tese de que ogros podem chorar.

Mas, lágrimas à parte, fato é que ao relembrar os acontecimentos dos últimos doze meses, nesse giro de 180 graus que minha vida deu, impossível não me emocionar.

De um cenário pessimista, repleto de dúvidas e incertezas ao momento de agradecimento pelas glórias alcançadas.

Um ano de renascimento, ressurgimento, reerguimento, reinvenção e amadurecimento.

E em todos estes momentos, encontrei no amor da minha esposa, da minha mãe, do meu irmão, dos meus tios e amigos, o combustível que renovava minhas energias e me impulsionava rumo ao topo.

Sozinho eu não teria tido forças para superar cada obstáculo colocado diante de mim. Aliás, sozinho ninguém pode ser feliz nesta vida. E, graças a Deus, eu tenho preenchido dentro de mim todos os espaços com o amor de vocês, o que faz de mim uma das pessoas mais felizes no planeta.

E o que aconteceu em 2013?

Vou apenas enumerar alguns dos fatos ocorridos, pois os detalhes de cada experiência vivenciada eu estou relatando no projeto de livro pessoal em desenvolvimento.

- o laboratório concluiu pela análise de material retirado na cirurgia que o tumor era benigno;
- adquiri o título de "sócio patrimonial" no Flamengo e, timidamente, comecei minha vida política no clube;
- montei meu escritório de advocacia, desenvolvendo desde então um projeto sério;
- recebi homenagem dos meus alunos na UniverCidade pela minha postura em sala de aula;
- fui convidado para retornar a trabalhar em um curso jurídico; 
- perdoei e fui perdoado por pessoas que magoei no passado;
- casei com a mulher da minha vida;
- experimentei a intensidade e a pureza do amor que minha mãe e meu irmão sentem por mim;
- fui aprovado na residência jurídica da UERJ, primeiro passo de um projeto maio (mestrado);
- conheci duas cidades que desde pequeno tinha o sonho de conhecer (NYC e Cape Town);
- minha esposa está grávida do meu primeiro filho;
- vi o Flamengo ser tricampeão da Copa do Brasil e dois rivais serem rebaixados (dane-se o STJD);

E lembrar que tudo isso aconteceu depois que eu passei meu último reveillon em um quarto de hospital, recém operado e diagnosticado com um tumor maligno perto do meu rim esquerdo. Ali, naquele momento, eu tive muito medo. Medo de causar dor e sofrimento a quem me ama. Medo de não ter feito nada e ser esquecido. Medo de não realizar meus sonhos. 

E hoje, doze meses depois, estou celebrando a vida, agradecendo as dádivas alcançadas, plenamente recuperado do susto, equilibrado emocional e espiritualmente, e o melhor: vivendo a expectativa do nascimento do meu primeiro filho, cujo nome será em homenagem ao meu pai, minha eterna referência e meu incansável anjo da guarda.

Hoje sou uma pessoa mais confiante, madura e segura do que quero para mim e do que esperar da vida. Tenho ciência de que nem sempre será possível gozar somente de bons momentos. Mas, sei que posso extrair boas lições de momentos ruins e que não posso perder a fé, o equilíbrio e a tranquilidade diante de uma adversidade. Estou aqui em um processo de evolução e as vezes a dor é inevitável para tanto.

Agora, se o plano espiritual estiver lendo esse meu texto, gostaria de fazer um pedido especial: que venham novos 2013 daqui em diante! Muito obrigado por tudo!

Valeu, 2013!

Feliz 2014 a todos!



Nota: ao escrever esse texto, acabei me lembrando de uma música que era cantada durante as missas na minha época de aluno marista no Colégio Marista São José, na Tijuca (Rio de Janeiro), e que retrata um pouco este momento (além de bater um saudosismo imenso da época de colégio...).