Não me queira mal, leitor. Não mesmo.
Acima de qualquer opinião, meu respeito em grau máximo às crenças individuais alheias. Se você tem ou não religião e qual é ela, sinceramente, não me interessa. O livre-arbítrio confere a cada um de nós a faculdade de promover nossas próprias escolhas, segundo os mais variados, conflitantes e antagônicos critérios, muitos dos quais desprovidos de razoabilidade, fundo científico e de auto sustentação. E até que me provem o contrário, há coisas na vida para as quais simplesmente não se encontra explicação/justificação. E a existência de Deus, da maneira como concebida há pouco mais de 2.000 anos, certamente é uma delas.
Feita a ressalva acima, reforçando a idéia de que o assunto em voga é polêmico, apresento um questionamento digno de reflexão: até que ponto a religião orienta a caminhada do Homem?
A indagação acima é bastante oportuna a medida que nos deparamos em qualquer era da história da humanidade com a relação visceral entre Homem e Religião, cúmplices e dependentes um do outro. Para o bem e para o mal.
Novamente: não estou aqui a atestar ou reconhecer a inexistência do "Big Boss" (pelo amor de "Deus"!), mas sim pontuar a respeito da alternativa encontrada pelo Homem no decorrer de sua história para chancelar seus atos e justificar suas ambições, sem maiores resistências ou contestações.
Pode não parecer, mas a mim, religião e Deus são coisas distintas. A começar pelo fato de que a religião tem se revelado falha, frágil e incapaz ao longo dos séculos de promover na espécie humana aquilo que seus fiéis poderiam esperar dela.
A história da humanidade corrobora a idéia acima, senão vejamos.
Nos dias de hoje, "em nome de Deus", pessoas se explodem, retirando a vida de outras. "Em nome de Deus", os homens promovem guerras. "Em nome de Deus", uns enriquecem com o dízimo de outros. "Em nome de Deus, busca-se justificar a existência de ricos e pobres, alegria e tristeza, felicidade, dor e sofrimento. "Em nome de Deus" comete-se os mais variados crimes contra os nossos semelhantes.
No passado, a religião foi usada para justificar o poder dos soberanos, a concentração de riquezas, a matança de opositores, o não desenvolvimento da ciência e do próprio homem.
No passado, "em nome de Deus", de acordo com a religião dominante. No presente conforme a multiplicidade de religiões difundidas entre os homens na Terra. Salvo meia dúzia delas, para as quais há críticas e resistência em se admitir como sendo uma, a religião acorrentou o Homem de uma tal maneira que seu futuro é posto em xeque.
É possível perceber a presença da religião nos capítulos mais tristes da história da humanidade. E saiba, leitor, isso é um fato e não uma opinião.
A religião trouxe "em nome de Deus" a ganância, corrupção, pedofilia, mentiras, mortes, miséria, crimes diversos, razão pela qual, se existe um Deus, pai de tudo e de todas as coisas, será que realmente ele estaria satisfeito com a maneira como seus filhos invocam seu nome e o celebram?
Será que seríamos uma sociedade melhor sem a presença da religião?
Até que ponto o modelo econômico, político e religioso escolhido por cada sociedade interfere direta ou indiretamente no estilo de vida e na relação entre Homem e Deus?
Até que ponto o enfraquecimento da família, das instituições, dos bons costumes corrobora para o distanciamento entre Homem e Deus?
Até que ponto a alienação geral torna o homem cada vez mais refém e dependente da religião?
Como seria a vida do homem diante da certeza de que não há nada depois da morte?
Fascinante, desafiador e certamente, tema de muito debate.
Eis o paradoxo trazido pela análise da história da humanidade nos últimos dois milênios: quanto mais o Homem se aproximou de uma religião, mais ele se afastou de Deus.
No entanto, como toda regra, a religião comporta exceções. Até mesmo pela minha ignorância cultural e religiosa acerca de várias existentes nos dis de hoje, eu não poderia equipará-las e igualá-las em defeitos e virtudes. Só ouso a afirmar que mesmo não as conhecendo inteiramente, dificilmente haverá alguma capaz de responder a todos os questionamentos do Homem e/ou trazer a tão conclamada e desejada "paz espiritual". Na sua essência, o homem é um ser inquieto, ávido por respostas e mudanças. E isso, por si só, já contrasta com a idéia de religião.
Por outro lado, é forçoso reconhecer a importância da religião em diversos aspectos. E por óbvio, cada religião também é capaz de fazer o que dela se espera: ajuda aos necessitados, projetos sociais, paz interior e também, por que não, um direcionamento para vida de cada um (conselhos, incentivos etc).
Se o mundo está do jeito que está mesmo com a religião defendendo e lutando por seus dogmas (muitos dos quais colidem com "a evolução da sociedade contemporânea"), imaginemos como seria a ausência de religião na vida de todos nós.
Até porque, lembre-se, por menos religioso que você seja, no primeiro sinal de fraqueza, você pede proteção divina. Faz o sinal da cruz. Reza, ora, suplica. Faz promessa a santo. Ajuda a quem precisa. Frequenta missa ou similares em busca de tranquilidade, harmonia e paz. Faz ou deixa de fazer coisas por conta de crenças ou ensinamentos advindos de alguma religião. E por aí vai. Queira ou não, a vida de todos nós em diversos momentos é influenciada pela religião. E isso independe da sua crença em Deus.
E por isso, a conclusão: a religião foi a maior invenção humana da história.
Nota do Autor: acredito em Deus, tenho formação católica, conhecimento em outras religiões, passagens de vida reveladoras da presença divina e uma única certeza: a minha crença em Deus não passa por orientação de nenhuma religião criada pelo Homem. Somos falíveis, instáveis, manipuladores, mentirosos e insuficientemente capazes de entender tudo aquilo que envolve a criação da Terra, do Homem e de tudo mais que existe por aí.
Eu achei muito interessante, eu não tenho religião. Eu acredito em um DEUS que é capaz de amar independentemente das invenções humanas. Concordo que Religião é como time de futebol onde os torcedores acreditam que o dele é o melhor que do outro. Onde muitos se matam,...etc. Eu sou livre porque DEUS me fez conhecer a liberdade.
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