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domingo, 8 de maio de 2011

Um tributo a minha mãe

Hoje é domingo, Dia das Mães. A essa altura dos acontecimentos, você já escolheu o presente dela, já retornou daquele almoço de família e com certeza deu um beijo e um abraço carinhoso na sua mãe. Se ainda não fez isso, vai por mim, esqueça o presente e o almoço, mas não deixe de beijá-la e abraçá-la. Acredite, as mães se realizam com gestos simples de carinho e amor.
Como o leitor já pôde perceber, o blog hoje irá se aventurar nesse tema. Tarefa das mais difíceis para quem a biologia não deu um voto de confiança. Aliás, se Deus de fato existe, é um sujeito bastante inteligente, afinal, conferiu à mulher a responsabilidade (mas, sem dúvidas, uma verdadeira dádiva) de gerir uma nova vida. E essa escolha não foi por acaso. Só carregamos aquilo que podemos suportar. Ora, ninguém aqui duvida que um homem não suportaria a dor no parto, o primeiro sinal de enjôo, as alterações no próprio corpo, amamentação, trocas de fraldas, choros intermináveis pela madrugada, dentre tantos outros itens do "pacote", não é mesmo? Começo a desconfiar de que na verdade ... Deus é Deusa! E que nenhum católico fervoroso leia isso aqui, pois não gostaria de me juntar a João Calvino, Fidel Castro, Juan Domingo Perón, Miguel de Cervantes na lista dos excomungados pela Igreja Católica...
Talvez fosse mais fácil escrever hoje sobre futebol, sexo, drogas e rock n´roll. Talvez. Mas, o apelo hoje é outro. E em respeito a todas as mães do Brasil e do mundo, em especial, a minha, tentarei escolher as palavras certas que me permitam ao final ter a certeza de que consegui prestar uma singela homenagem a ela.
Por obviedade, eu jamais saberei o que é ser mãe. Mas, como filho sei reconhecer a importância de ter uma perto de mim. Há pouco mais de 10 anos, perdi meu pai. Em contrapartida, perto dos meus 20 anos, ganhei a chance de novamente estreitar os laços que unem um filho a sua mãe.
Admito, não foi fácil no início. Brigas, discussões, afastamento, rejeição. Quando se é muito jovem, não temos maturidade suficiente (nem vontade) para lidarmos com certas coisas. Partimos da premissa que ela deve estar sempre ali, disponível e forte, pronta para nos atender. Não é assim que as coisas funcionam. Apesar de heroínas, nossas mães são seres humanos iguais a gente. A juventude cega os nossos olhos. O futuro aparenta se revelar além do horizonte. Há aquela sensação de que tudo pode ser corrigido amanhã. E que um pedido de desculpa resolve tudo. Não, isso não é verdade. Esqueçam isso. Palavras se perdem ao vento; seus gestos e suas atitudes dirão no futuro quem você foi e o que você fez.
E por muito tempo, fui um sujeito medroso, escroto e deveras egoísta, a ponto de só pensar em mim, não me preocupando com ela. E foi assim que durante anos, covardemente nunca me coloquei na posição dela, de tentar entender o seu sofrimento, a perda do marido. Eu tinha minha faculdade, meus amigos, minha vida. Quem ela tinha? As vezes, lembrar de certos momentos me envergonha muito, faz com que eu me sinta o pior dos homens. Sinto uma raiva de mim muito grande.
Junto com a queda do cabelo e o envelhecimento do corpo, os anos a mais te proporcionam experiência para conduzir melhor a sua vida. E esta te dá uma segunda chance para reescrever aquele capítulo que não estava legal. E quando isso acontece, você não repete seus erros (as discussões até acontecem, mas em patamares razoáveis, sadios).
Da relação com a minha mãe, descobri que ser mãe é amar sem exigir nada em troca. É perdoar incondicionalmente. É se alegrar de suas conquistas (mesmo não fazendo a mínima idéia do que estas representam ou possam ser), é ter sempre um conselho na ponta da língua. É ter um pedaço considerável dela dentro de você. Por mais que você rechace essa idéia, no fundo, com pequenas variações de temperatura e pressão, somos um pequeno produto de nossos pais, de nossa educação, de nossas experiências. Com ou sem defeitos, não amá-los significa desprezar um pouco do que você é. "Honra teu pai e tua mãe", como bem ensina um dos dez mandamentos.
Já dizia o poeta que no meio do caminho havia uma pedra; havia uma pedra no meio do caminho. É verdade. No meu caso, existiram centenas delas. E mesmo assim, não foram suficientes para tirar a mim e a minha mãe do caminho certo (a felicidade). Enquanto "lutávamos" cada um por si, era impossível avistar o que havia além das pedras. Mas, a partir do momento que nos demos as mãos e voltamos a ser uma coisa só (família), afastamos as dificuldades e reencontramos o tesouro perdido além das pedras (o amor, a felicidade).
Hoje, domingo, Dia das Mães, é dia de agradecer por tê-la comigo. É dia de pedir por saúde para prolongar por muitos anos a presença dela ao meu lado. É dia de renovar os votos de mãe e filho, de estreitar ainda mais os laços de amor que unem desde a minha concepção. É dia de carregá-la no colo e dizer: "mãe, estou aqui. Sempre. Juntos, eu e você, você e eu. Obrigado por tudo". É dia de relembrar momentos marcantes da minha vida e descobrir que na maior parte deles, ela estava ali do meu lado, me incentivando, me educando, zelando por mim, amando-me.
Ao fazer isso no dia de hoje, me questiono: como não amar a minha mãe se é justamente aquela que diariamente suporta sempre com um sorriso e um carinho o meu habitual mau humor, as minhas crises existenciais, os meus conflitos com o mundo?
Como não amá-la pela escolha dela de trocar o Botafogo pelo Flamengo depois de tantos anos simplesmente para ter mais momentos ao meu lado em dias de jogos do Mengão? Pelas lágrimas de alegria e tristeza depois de cada conquista rubro-negra?
Difícil não amar quem enche o pulmão de ar para dizer aos quatro cantos do planeta o orgulho que sente por ter filhos como eu e o meu irmão, como?
Como não amar quem abdicou de sua vida profissional para poder dedicar mais tempo da sua vida com a minha educação, com o meu bem estar, com o meu crescimento?
Como não amar e agradecer àquela pessoa que escolheu o colégio onde eu estudei? Como não amar essa mulher que diariamente me levava para os cursinhos de inglês, treinos de basquete, natação, judô?
Como não amar quem se preocupa comigo quando estou gripado, lesionado ou simplesmente quando viajo e fico sem dar sinal de vida?
Me sinto um pouco incomodado pelo trabalho que dou a ela, afinal, ela se responsabiliza pelas minhas refeições praticamente todos os dias, pelas roupas limpas e bem passadas, por agendar meus médicos, por quebrar todos os galhos que eu preciso. Vivo pedindo para ela não se preocupar, para não fazer, mas você acha que adianta? Ela me "desobedece". Diz que faz por amor, que faz para eu me preocupar exclusivamente com os meus estudos e ir atrás dos meus sonhos. Como não amar uma pessoa assim? Aliás, o meu combustível que alavanca os meus estudos hoje começa e termina na idéia de dá-la uma vida ainda melhor e que, juntos, tenhamos ainda milhares de momentos juntos, de alegrias e comemorações. E que nos dias ruins, possamos permanecer unidos, protegendo e cuidando um do outro. Afinal, somos uma família, somos filho e mãe, mãe e filho. E tem sido assim na história da humanidade nos últimos milhares de anos.
Agora, a pergunta que não quer calar: meu Deus, por que ela fez e faz tudo isso para mim? Simples. Porque ela é mãe. Porque em algum dia do passado, ela jurou me amar e cuidar de mim para todo o sempre. Porque não importam os obstáculos, as provações e que eu tenha quase 30 anos. Para ela, serei sempre aquele garotinho indefeso, aquela criança que ela ensinou tudo e que carregou nove meses na barriga. É rapaziada, serei sempre o filhinho da mamãe, o mais velho, aquele que fez dela mãe. Isso não deve ser pouca coisa. Graças a Deus.
E nesse Dia das Mães, uma revelação: vivo o melhor momento da minha relação com ela. Poucas vezes me senti tão conectado a ela. Foi preciso perder um pai e passar por maus bocados para descobrir o valor e a importância de uma mãe na minha vida. Mas, consegui. Não há palavras que descrevam ou dimensionem a paz interior e a minha felicidade por estar de bem com a minha mãe. Se existe essa tal de felicidade plena, é isso que sinto nesse momento!
E o engraçado é que prestes a finalizar o texto, sou surpreendido aqui no meu quarto com a visita da minha mãe. Acabou de perguntar se estou com sede ou se quero alguma coisa. Só dei uma risada e balancei a cabeça afirmativamente. Como ela leu meus pensamentos, meu Deus? Incrível, não? É coisa de mãe, não adianta. Mal sabe ela da pequena homenagem que resolvi externar ao mundo virtual no dia de hoje. Realmente, sou um sujeito de sorte. Preciso me lembrar disso em todos os dias da minha vida. Faz toda diferença do mundo.
E é justamente nesse contexto, sem maiores delongas, que vou encerrar o presente texto: que me perdoem os pais, mas ser mãe é fundamental.
Feliz Dia das Mães, Mãe! Eu te amo!

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