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quarta-feira, 16 de março de 2011

Meu pai, meu herói

Hoje é um dia especial para o blog. É dia de falar sobre um herói. Mas não falarei de qualquer herói. Trata-se do meu herói. Meu pai, o maior de todos os heróis.
Todo mundo na vida tem um herói. Alguns possuem vários. Graças a Deus, eu tive o meu pai. Exemplo de homem, de amigo, de filho, de profissional, de ser humano, de marido, de pai. É óbvio que tinha defeitos, quem não os tem? Mas suas virtudes simplesmente anulavam os seus defeitos.
Até começar esse texto, pensava em escrever sobre a dor da despedida e todo sofrimento experimentado naqueles doze meses de hospital no ano de 2000. Mas, talvez não fosse justo com o meu coroa, afinal, se há algo que sempre vem a minha mente quando penso nele é a imagem dele com um sorriso no rosto. Assim, seria muita covardia da minha parte escrever um texto em que eu provocasse angústia, dor e sofrimento nas pessoas. Não seria uma homenagem que eu gostaria de fazer ao meu velho. Ele não merece isso e meus leitores também não.
Lá se vão pouco mais de dez anos que ele faleceu, vítima de câncer. Para quem pensa que o tempo faz você esquecer as pessoas, eu digo: é mentira. O tempo ameniza a dor, a saudade, aquele aperto no coração. Mas não te faz esquecer quem você ama. Na verdade, com o tempo, você se adapta à nova realidade, pois, a vida continua e ninguém vai passar a mão na sua cabeça. É preciso seguir em frente. No entanto, quando se ama alguém, parte desse alguém continua e continuará sempre existindo dentro de você. O amor transcende a morte. O amor desafia a despedida. O amor supera o tempo. Imaginar uma vida diferente disso é pactuar com a tristeza, com o vazio, com o nada. E tenho a certeza de que ninguém nasce e passa uma vida inteira querendo ser uma ausência de sentimentos, desejos e realizações. Não serão dozes meses de dor e muita tristeza que apagarão outros 204 meses de muito amor e alegria.
De coração, espero que as palavras aqui redigidas de alguma forma sensibilizem àqueles que por algum motivo, não estão aproveitando a oportunidade de conviver e conhecer melhor seus pais. Claro que a vida muitas vezes é ingrata, exigindo de você um baita esforço e dedicação com os estudos, trabalho e afins e por vezes, você acaba tendo pouco tempo para desfrutar da companhia do seu pai, não é mesmo? Mas, a partir de hoje, isso será diferente. Ao ler esse texto, você está assumindo o compromisso comigo de dar um abraço bem forte no seu coroa, um beijo de respeito na testa e dizer a ele: "pai, eu te amo". Se você quiser realmente me deixar muito feliz, convide-o para sair, tomar um chopp, jantar. Faça algo diferente. Quebre barreiras, deixe o orgulho de lado. A vida é uma só. Nem sempre é possível ter uma segunda chance. Pense nisso. Gostamos muito de complicar as coisas. Neste programa com o seu pai, faça revelações da sua vida, mate sua curiosidade, pergunte coisas que você nunca perguntou a ele. Seja criativo e original. Te garanto, é um barato. Você conhecerá uma nova pessoa.
Bem, superado o compromisso acima, permitam-me falar um pouco sobre o meu herói. Ele nasceu no interior do Espírito Santo e no início de sua adolescência veio morar com a mãe e os três irmãos no Rio de Janeiro (perdeu ainda criança o seu pai). Formou-se em Engenharia Mecânica. Dizia ser torcedor do América do Rio, mas no fundo, era um rubro-negro. Se não era, passou a gostar do Flamengo por minha causa (mesmo moleque, lembro-me perfeitamente bem de uma vez no Maracanã quando ele comemorou um gol do Mengão muito mais que eu). Abriu uma sociedade com dois grandes amigos e depois de muito tempo trabalhando como engenheiro, passou a trabalhar na sua própria empresa.
Não tinha habilidade e gosto em praticar esportes. Mas sempre quis e fez com que seus filhos praticassem os mais diversos deles. Na verdade, gostava mesmo era de comer. Meu Deus, como adorava beliscar as mais variadas guloseimas. Qualquer nutricionista fracassaria perto dele! Não fumava, bebia pouquíssimo (o gosto pela bebida eu devo ter pego de algum tio). Onde quer que estivesse, era bem recebido e tratado com muito carinho. Até hoje, não conheci uma pessoa que não gostasse do meu pai. Se existem pessoas que não gostavam dele? Claro, ninguém é unanimidade, nem Jesus Cristo foi. Mas, não soube de alguém que lhe detestasse.
Mas, a pergunta que não quer calar: por que ele era o meu herói? A resposta é muito fácil. No meu pai, vejo o exemplo de homem, filho, marido, amigo, profissional e de pai que quero para minha vida. Nos melhores e nos piores momentos desta, sempre mirei o seu exemplo para resolver os meus problemas. Há um pouco dele no meu irmão, na minha mãe, em mim. Ou seja, a morte não fez apagar a presença do meu pai. Ele sobrevive e existe até hoje dentro da minha família. E talvez, se menor tivesse sido a sua influência, essa família hoje não existiria, estaria separada, desunida.
O que torna um sujeito herói de alguém? Vejam o meu caso. São coisas simples. Começa pela alegria de ouvir o barulho da porta de casa, indicando que seu pai chegava do trabalho. Aquele abraço e beijo gostoso, a conversa sobre as novidades na escola e no clube. Impossível ainda não lembrar daquela viagem a dois feita a Friburgo quando criança, ensinando sobre os sinais de trânsito e sobre como dirigir nas estradas. Jogar futebol no campeonato do colégio e ver que o treinador do time era o seu pai. Jogar basquete pelo Tijuca e olhar o coroa na arquibancada dos ginásios, onde quer que fossem os jogos. Era acordar domingo de manhã e ver as corridas de F1 juntos. Era madrugar para disputar quem leria o jornal do dia seguinte primeiro. Era acompanhá-lo na visita à vovó Aurora nas manhãs de sábado. Era perguntar sobre qualquer coisa e sempre ter uma resposta. Era ajudar no cultivo da horta criada na casa de praia. Momentos que formam uma infância, uma adolescência, uma vida. E em todos eles, sempre presente a figura paterna. Sempre um conselho, uma observação, um elogio, um carinho. Tem coisa melhor que isso?
Pai, meu querido e amado pai. A saudade é imensa. O senhor continua fazendo muita falta aqui. Obrigado por todo carinho dado. Eu sei o tamanho da minha responsabilidade no futuro de ser para o meu filho, o pai que o senhor foi para mim. Porque sei a importância e a diferença que um pai presente, carinhoso e amigo faz na vida de um filho. A vida pode ter encurtado a nossa história, a nossa convivência, mas seus ensinamentos, o seu amor, tudo isso viverá para sempre dentro de mim e nas gerações futuras de nossa família. Você é o cara!! Te amo, porra!
Talvez não haja mais nada a falar nesse momento. Apenas refletir e relembrar de todos os bons momentos vividos. Perto deles, a dor e a separação parecem não existir, nada significam. No fundo, gostaria de escrever melhor ou redigir outros textos sobre o coroa. De repente na data do aniversário dele. É que fica a sensação de que não foi suficiente tudo o que escrevi acima, de que não consegui homenageá-lo. Difícil falar sobre o amor de um filho para seu pai. Nessas horas, a emoção prejudica um pouco pois me impede de raciocionar melhor, de concentrar naquilo que realmente quero falar. Peço desculpas ao leitor. Nem sempre é possível fazer o melhor. Mas, falar sobre o meu pai me deixa feliz, ameniza um pouco a sua ausência física. Enfim ...
Assim, termino este texto, com o link para a música que o meu pai mais gostava de ouvir em seus momentos de reflexão. Impossível não me emocionar até hoje quando a ouço. Chega a dar um aperto um pouco mais forte, mas a certeza de que tudo acontece na vida por um propósito e a convicção de que tive o melhor pai do mundo, me ajudam a suportar o momento. Pai, te amo, essa música é em sua homenagem! Eu e você, você e eu, juntos, até o fim! http://www.youtube.com/watch?v=frD6vZnc_54 !

4 comentários:

  1. Curti, amigão!
    Eu curto meu pai, aliás, eu e todos vocês. Porque ele é uma figura simpática, agradável....rs. Paga cerveja pra rapaziada, sempre corneta os filhos (em especial o Rei) e se faz presente em alguns programas. Praticamente da galera!
    Belas palavras!
    Abs

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  2. Emocionante!!!
    Apenas discordo qnd diz que não conseguiu expressar uma real homenagem ao "seu coroa".Vc abordou de forma calorosa e simples, sem ser simplório, a descrição de sentimentos que muitas vezes não conseguimos verbalizar.
    Curto muito meus pais e meu irmão e acho extremamente válido vc sugerir esse "compromisso" aos seus leitores.
    Parabéns Rafa!

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  3. Que lindo Rafa!!! Você me fez chorar, ta?
    Acabo fazendo ligação aos meus pais e a falta que me fazem. Sinto na pele a ausência deles! Mas, assim como você, eles estão presentes em minhas ações. São grandes referências para mim em tudo!
    Parabéns!!

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  4. Rapaz, fiquei emocionado com suas palavras... lembro muito bem do "Tio Marcos" e sempre fui um admirador de sua picanha... Ele era fera em descer com uma peça de carne pra assar pra gente no prédio...

    Lembro de uma outra história que vivi somente eu e ele: Tinha viajado com vc e sua família pra iguabinha, só que voltei mais cedo, junto com teu pai, que voltaria ao Rio pra trabalhar. Estávamos fazendo alguma coisa antes de eu entrar no carro, e não sei pq, entrei no carro sem camisa e voltei até o Rio assim. Seu pai ligou o ar condicionado do Santana Quantum dourado no máximo, e voltei pro Rio morrendo de frio... fiquei sem graça de dizer pra desligar, pois acho que ele sentia calor... hahaha

    Enfim, curti seu blog tb... seremos seguidores um do outro... (meio gay isso hahaha)

    Grande abraço rapaz! Vamos num jogo do Flamengo juntos pra relembrar os velhos tempos...

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