À Nação
Rubro-Negra,
É preciso reagir. Com frieza e inteligência, acima
de tudo. E, sem sombra de dúvidas, com a ajuda de pessoas do bem, rubro-negros
legítimos, desprovidos de interesses políticos, econômicos ou auto
promocionais.
O Clube de Regatas do Flamengo necessita da ajuda
de rubro-negros honrados, idôneos, com um mínimo de efetiva boa vontade e senso
crítico, e ideologicamente independentes daqueles que há décadas apequenam o
clube mais popular do país, sugando-lhe as forças, os recursos, a alma.
O horizonte que se avizinha é sombrio. E saiba você
que nem meia dúzia de conquistas não terá o condão de mascarar a triste
realidade: o Flamengo se tornou há tempos uma bagunça institucionalizada,
povoado por urubus famintos, movidos por ganância e interesses pessoais, pouco
importando se isso resultará no sofrimento de milhões.
O sentimento de revolta que há muito habita meus
pensamentos só não causa um estrago maior e irreparável porque, graças a Deus,
aos meus pais e ao meu esforço pessoal, consigo ter outras preocupações e
objetivos de vida que exigem de mim atenção e dedicação.
Mas, infelizmente, não é essa a realidade de outros
milhões de torcedores, igualmente ou até mesmo mais apaixonados pelo Flamengo
do que eu, muitos dos quais deixam de colocar comida em casa para assistir a um
jogo do time ou mesmo adquirir um produto do clube. Isso sem contar aqueles que
usam o futebol para amenizar um pouco o sofrimento pelas dificuldades
diariamente enfrentadas em nossa sociedade.
Por mim, por eles e por outros rubro-negros que
certamente estão indignados e sofrendo com a situação atual do Flamengo,
resolvi escrever essa carta, não me preocupando se a mesma ficará extensa,
dificultando sua leitura.
Ainda que ao final, seja o único a lê-la, terei
cumprido o meu papel. Mas, nunca, em nenhuma hipótese ou sob qualquer condição,
lavarei as mãos. Jamais, em tempo algum, desistirei do Flamengo e negarei o
amor que sinto por este clube.
A pretensão de apresentar os problemas e esgotar as
soluções passa bem distante nesta carta. Beira o amadorismo supor que esta
carta seja capaz de solucionar todos os problemas do Flamengo. E de amadores,
já bastam as gestões dos últimos 117 anos.
Você, torcedor e apaixonado pelo Flamengo, não
perca seu tempo em me odiar ou me amar. Em concordar em parte, na íntegra ou
discordar veementemente de tudo que vou escrever. A idéia aqui é resgatar o
espírito rubro-negro que existe dentro de você. É romper a inércia com que a
torcida do Flamengo lida com as sucessivas atrocidades cometidas por
dirigentes, jogadores, empresários e “torcedores profissionais” (leia-se: os
infiltrados na Gávea através de seus poderes institucionais e aqueles cujo
apoio é financiado por diretorias em troca de ingressos e sabe-se lá mais o
que).
É preciso reagir. Dar o pontapé inicial. Trazer
para perto homens que façam a diferença. Afinal, uma Nação que conta com 35
milhões de seguidores não pode ser refém pela ditadura de uma minoria, não
concordam?
Eu gostaria muito de conclamar a imprensa para me
ajudar na difusão desse manifesto. Mas, infelizmente, uma imprensa
verdadeiramente livre e independente parece ser uma utopia presente apenas em
livros de ficção política. Isso para não adentrar no mérito do pleno
desconhecimento e despreparo com que ditos profissionais noticiam as
informações vindas da Gávea.
A conveniência faz a imprensa invocar a bandeira da
liberdade de imprensa. Balela. Infelizmente, o futebol é apenas mais um
segmento dessa sociedade aprisionada pela alienação geral, pela reduzida
capacidade crítica com que se discute idéias neste país e pelo ceticismo que
ronda nossas instituições.
Diariamente, em praticamente todos os meios de
comunicação, é possível enxergar o desfavor com que a imprensa e seus doutos
profissionais prestam ao Mais Querido do Brasil (para não adentrar em outras
searas), expurgando para longe da Gávea a esperança de dias melhores e de
retomada ao caminho do crescimento enquanto instituição e de solidificação da
marca no mercado interno e internacional, veiculando-se notícias falaciosas,
tendenciosas e que nada acrescentam para as devidas mudanças que urgem ocorrer
no Clube de Regatas do Flamengo.
E se o debate na imprensa não pode ser total, livre
e independente, não presta para o objetivo pretendido: resgate da auto-estima e
do caminho por dias melhores.
Assim, você torcedor rubro-negro de bem, diferente
de quem hoje é situação ou oposição na vida política do Flamengo, preocupado com
a quantidade de besteiras cometidas pela atual diretoria e pelas que lhe
sucederam, leia com atenção essa carta. Que este desabafo avance pelo mundo
virtual e chegue ao conhecimento de um número máximo de pessoas interessadas em
resgatar o Flamengo do mundo das trevas para onde foi lançado por seus
“líderes”.
Nasci em 1981. Sou cria da geração de ouro da
Gávea. Desde cedo, acostumei-me com conquistas históricas, com vitórias e com o
orgulho que era torcer e representar o Flamengo onde quer que eu estivesse. Vi
jogadores com reduzida capacidade técnica se transformarem em ídolos. Cresci
com os adversários temendo e respeitando o time, sua torcida e, principalmente,
a instituição.
Em algum momento, tudo isso foi perdido.
Seria cômico, se não fosse trágico, observar neste
ano eleitoral, que as mesmas figuras que se arrastam há décadas no Flamengo
surgem como esperança de dias melhores, de modernização. Até quando seremos
obrigados a aguentar esses ex-presidentes, que trocam acusações e ofensas
repetitivamente, como se fossem imunes às críticas e que carregassem histórico
de acertos e reputações idôneas. Façam-me o favor...
O abismo bate a porta. O medo também. Há um
campeonato brasileiro pela frente e um time despreparado, sem alma, sem
identidade. E até lá, disputas eleitorais, novas crises, dívidas e mais um ano
perdido, sem conquistas, sem resgate da auto-estima, sem implementar qualquer
ideologia minimamente profissional.
Divulguem esta carta. Façamos um movimento pacífico
e inteligente. Vamos protestar contra quem aterra sonhos de ver um Flamengo
referência mundial.
Nas próximas manifestações, falarei um pouco sobre
o caso envolvendo o R10, Lei Pelé, categorias de base, parte tática e técnica
do time, contratações, política do clube, treinadores, patrocínio, quadro
social do clube, dentre outros assuntos.
Fica aqui registrado o meu protesto. O meu “basta”,
o meu repúdio com que todos esses dirigentes fizeram com o Flamengo ao longo
dos últimos 30 anos. Não será a entrega de um CT, conquista de títulos em
esportes amadores e pagamento de juros de dívidas que acabarão com a minha
insatisfação.
Pensemos em alternativas.
Porque do jeito que está, o Flamengo em breve se
tornará um ex-clube grande, vivendo cada vez mais do passado, tal como fazem seus
pares aqui no Rio de Janeiro.
Rubro-negros de bem e Geração de 81, salvemos o
Flamengo.
SRN!
Observação: Para quem possa contestar meu lado
rubro-negro, digo em minha defesa preventiva que desde meus 12 anos passei a ir
sozinho ao Maracanã, em jogos decisivos ou simplesmente diante de times
inexpressivos em campeonatos diversos (sempre pagando meus ingressos e me
submetendo a horas de fila, cambistas, despreparo da PM e outros absurdos que
só quem vai ao estádio é capaz de saber). Ajudo indiretamente o clube
adquirindo produtos oficiais todos os anos e pagando pelo sistema de pay per
view. Em breve, me tornarei sócio, pois pelo Estatuto do Clube, somente quem
for sócio adimplente e por 3 anos, salvo engano, possui o direito de participar
da vida política do clube. E não haverá qualquer mudança nessa bagunça chamada
Flamengo se não houver reforma política e rubro-negros idôneos a frente desse
processo de transformação.