Querido Bom Velhinho,
Imagino
que o momento não seja o melhor para escrever uma carta, afinal, nesses dias
que antecedem o Natal o senhor certamente está dedicando toda sua energia para
atender milhões de crianças, que ansiosamente aguardam a sua chegada.
Prometo
ser breve.
Faz um tempo desde a última vez que escrevi para o senhor. Talvez não se lembre de mim, mas, vou tentar refrescar sua memória.
Há 14 anos,
poucas semanas antes do Natal, escrevi uma carta completamente desesperado ao
senhor, implorando pelo único presente que me importava naquele momento.
Infelizmente,
meu pedido não foi atendido. Tive o pior Natal da minha vida. O senhor sabe
perfeitamente disso.
Durante um bom
tempo me perguntei por que o senhor tinha se esquecido de mim e se eu tinha
feito algo de errado. A falta de resposta me sufocou durante anos.
A verdade é
que eu me senti abandonado pelo senhor, justamente no momento em que mais
necessitava ganhar um presente de Natal. E logo o senhor que até ali sempre me
dera os melhores presentes que uma criança poderia receber.
O brilho do
Natal, que durante anos iluminava o meu coração esvaiu-se na escuridão que
tomou conta de mim durante um longo inverno.
Embora eu não
fosse mais uma criança, eu ainda era jovem demais para entender.
No afã da juventude,
passei a detestar o Natal, que havia se tornado um marco anual da minha
tristeza e infelicidade.
O senhor pode
não acreditar, mas, revoltado, cheguei a traçar um ousado plano para encontra-lo
no Polo Norte e fazer um acerto de contas. Mas, além de dinheiro, faltou-me
coragem.
Porém, com o
passar dos anos, as coisas foram mudando. O tempo, senhor de tudo, tratou de cuidar
das feridas e suavizar a minha dor. Os fios de cabelo branco (ou o que restou
deles) trouxeram um pouco de sabedoria e os anos a mais me permitiram encontrar
as respostas que sempre procurei.
Demorei a
perceber, mas, enfim, sei que estiveste sempre ao meu lado. E, mesmo sem pedir,
continuei a ser presenteado em todos os natais. A raiva me cegou, mas o amor me libertou!
E em relação aos presentes, esse ano,
sem dúvidas, o senhor caprichou.
Ganhei o maior
e melhor presente da minha vida. O filho que sempre quis ter. O papel (de pai)
mais aguardado desde aquele Natal. Se eu pudesse escrever um roteiro, não teria
escolhido um tão perfeito como este que o senhor me deu.
Há seis meses
presenciei o milagre da vida. Mudei minha definição de amor. Revi meu conceito
de amor felicidade. Desabrochei a faceta paterna adormecida há 14 anos,
protagonizando desde então o capítulo mais especial de minha existência e vendo
diariamente meu maior legado crescer diante dos meus olhos.
Por isso,
neste Natal, eu não quero te pedir nada. Apenas te agradecer por tudo e te
dizer que este Natal será o primeiro de uma nova era, de um novo ciclo,
igualmente feliz como aquele que se encerrou há 14 anos.
A minha
alegria por este Natal é tão grande que ousei o seguinte: vou me fantasiar de
Papai Noel e divertir a criançada este ano. Espero que o senhor não fique
chateado, afinal, Natal é época de alegria, de amor, de perdão, de recomeço, de
vida, de família reunida. E também de rabanada!
Por essa o
senhor não esperava, não é mesmo? Quem diria...
Feliz Natal,
Papai Noel! Obrigado por tudo!
Com carinho,
Rafael Murad
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