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domingo, 20 de fevereiro de 2011

A cegueira de nossos olhos

Caro Leitor,

Permita-se refletir comigo:

O que há de errado com a gente?

Mais cedo, estive no Engenhão, assistindo a vitória do Flamengo sobre o Botafogo, pela semi-final da Taça Guanabara. Na saída do estádio, caminhando em direção ao Norte Shopping para conseguir um táxi e voltar para casa, quase fui vítima da violência promovida por criminosos disfarçados de torcedores.

Já nas proximidades do Norte Shopping, e a menos de 1 km do Engenhão, cerca de 15 meliantes vestidos com a gloriosa camisa do Botafogo simplesmente se reuniram e correram em direção aos torcedores do Flamengo, iniciando uma série de atos criminosos.

Minha perplexidade se deu principalmente porque a violência cometida não ocorreu contra integrantes de nenhuma torcida organizada do Flamengo. Gente, esses bandidos promoveram verdadeiras cenas de terror contra homens "normais", mulheres, idosos, crianças, não perdoando ninguém entre tapas, socos, chutes e furtos cometidos naquela região ali próxima ao Engenhão. Quem como eu viveu aqueles poucos minutos angustiantes sabe bem o desespero de estar a mercê da própria sorte, pois o Estado, mais uma vez, não se faz presente quando deveria ser o primeiro a garantir e a exigir a manutenção da ordem.

Será que esse tipo de comportamento desses vândalos não é algo notório, capaz de ensejar o mínimo planejamento e trabalho de prevenção e repressão da PM? Quantos precisarão morrer? Quantas crianças terão que se traumatizar para que algo seja feito? Em pleno século XXI e a poucos anos de realizar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada, não deveríamos passar por esse tipo de coisa.

E depois a dita mídia especializada reclama do fracasso de público no Engenhão. Mas, até que ponto vale a pena arriscar a sua vida para assistir a uma partida de futebol? Não entra na minha cabeça como um estádio daquele foi construído com milhões de reais do dinheiro público sem que houvesse ocorrido uma série de desapropriações nos imóveis próximos ao estádio, sem a mínima ação estatal no sentido de promover meios aptos e satisfatórios para conforto e segurança daqueles que se submetem a pagar um preço salgado do ingresso, muitas vezes se sujeitando a horas intermináveis em filas sob o sol escaldante do Rio de Janeiro. A quem interessa tudo isso? Cadê as vozes de resistência e contrariedade?

É uma vergonha em todos os sentidos.

Por óbvio, não perderei tempo falando mal da torcida do Botafogo. Até porque, se hoje naquele cruzamento o episódio de violência se deu por grupo de torcedores do Botafogo, certamente em lugares não muito distantes dali, bandidos disfarçados de torcedores do Flamengo devem ter promovido ações similares ou até mesmo piores em desfavor de outras pessoas inocentes. A verdade é que bandido não tem time. Maldade não tem cara, escudo, hino ou cor. E o absurdo reside no fato de você sair de casa para se divertir e de repente, ter sua vida interrompida porque um bandido otário pratica um crime e, além da impunidade, há a sensação de inércia do Poder Público em resolver a questão.

Infelizmente, situações como essa de hoje acabam sendo encaradas como coisas do nosso cotidiano. Simplesmente, banalizamos a violência, renunciamos à própria dignidade humana, a ponto de considerar o ponto aqui narrado como algo normal e inerente ao futebol.

É nesse o mundo onde vocês querem viver e criar seus filhos e netos? Eu duvido.

E duvido principalmente porque não apenas no futebol temos essa débil visão para as mazelas que nos cercam. Basta observar que chegamos num ponto em que a degradação do ser humano nos é indiferente. Ou alguém aqui ainda se sensibiliza ao passar por um mendigo na rua? O cara não tem um teto, um agasalho, o que comer, nenhuma perspectiva. Nada. Ninguém para compartilhar histórias, trocar palavras de carinho. A sociedade virou as costas, deu de ombros. E o que fazemos? Atravessamos a rua, abaixamos a cabeça ou simplesmente passamos direto como se nada de anormal estivesse acontecendo.

A crítica ora apresentada também abarca a minha pessoa. Temo em afirmar que trata-se hoje em dia de verdadeira cultura transmitida de geração a geração, ainda que tácita ou indiretamente, por pessoas como eu, você, nosso vizinho etc.

Estamos cegos! "O homem é o lobo do homem", está aí uma frase apropriada e a cada dia mais atual.

Qual seria o caminho de mudança a seguir? Essa é dever apenas das autoridades? A convivência em sociedade, salvação para nossos antepassados, tornou-se uma condenação às gerações futuras? Será que daqui a pouco necessitaremos procurar pela paz e a humanidade somente em documentários e livros de história? O caos se revela tão normal diante dos nossos olhos e isso é uma pena.

Experimente, ainda que minimamente, mudar alguns de seus hábitos. O primeiro é refletir sobre esse tema. Enxergamos o que queremos e não o que pudemos. E isso alimenta um lado ruim da nossa história. A "paes" que esperamos não brota ao acaso. Ela começa a ser construída e conquistada rechaçando o voto tiririca que proferimos nas urnas, afastando do poder esses políticos que são verdadeiras lulas com seus tentáculos devastadores e nefastos. "Dilma" vez por todas, chega da cegueira, chega da omissão, chega da inércia.

Precisamos resgatar um pouco de identidade. Um pouco de humanidade. Que possamos redescobrir nossos valores e o significado da vida.

Enquanto nada muda, agradeço mais um dia de sobrevivência na selva. O pulso ainda pulsa ...

5 comentários:

  1. Fico feliz q esteja bem...Infelizmente por causa de meia dúzia de bandidos, somos trancafiados dentro de nossas próprias casas! Bjuss

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  2. É amiga, graças a Deus estou bem, ficou no susto mesmo. Vaso ruim é mais difícil de quebrar tb.! Rs. Obrigado pelos seus comentários aqui no blog!! Minha única e assídua leitora! Beijos!

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  3. Cara, aqui em porto alegre a torcida do grêmio costuma fazer muita algazarra também. Porém, todo dia de jogo contra o internacional (o classico daqui) existem escoltas policiais para a torcida do inter ir do Beira-Rio até o Olímpico. Dessa forma esses problemas são minimizados.
    Aqui a criançada gosta muito de ir ao futebol e eles valorizam esse momento familiar que pode se construir ao redor do esporte.
    Abraços!

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  4. Ah, então só é leitor quem comenta?

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  5. Lógico que não, Daniela! Mas o comentário de algum leitor me permite saber se há alguém acessando e lendo os textos do blog! Com os comentários seguintes, a Cris é uma leitora assídua e a primeira que fez o comentário do blog! Melhorou? =)

    Maurício, vou encaminhar sua sugestão à: (i) secretária de segurança; (ii) federação de futebol do estado do rio de janeiro; (iii) comando geral da polícia militar do rio de janeiro e aos (iv) chefes do executivo estadual e municipal. Obrigado!

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