De imediato, lanço a indagação: o que é felicidade? Se você repetir esse questionamento a um grupo de 100 pessoas, por exemplo, é bem provável que você obtenha 100 respostas diferentes, mas que igualmente retratem parte do que venha a ser essa tal felicidade.
E não pense que se trate de um assunto sem maior importância à sociedade. Muito pelo contrário. Apenas para você ter uma ligeira noção da complexidade e da seriedade com que esse tema é tratado, devo informá-lo que tramita em Brasília proposta de emenda constitucional objetivando inserir no rol dos direitos e garantias fundamentais de nossa constituição federal "o direito de ser feliz", seja lá o que isso queira dizer, até porque não entra muito na minha cabeça a idéia de que alguém viva para ser infeliz, embora, lamentavelmente, haja pessoas maldosas neste mundo que parecem viver para infernizar a própria vida e a alheia, não é mesmo?
A angústia que carregamos diante da dificuldade de conceituar concretamente o que venha a ser a felicidade é natural, afinal, nós seres humanos nos preocupamos muito mais em rotular tudo aquilo que nos cerca a realmente nos permitir conhecer e viver de fato tudo o que deve ser verdadeiramente vivido.
Veja, você não é obrigado a concordar comigo. Até porque a unanimidade sobre um assunto empobrece ou aniquila qualquer discussão sobre o tema. Sendo assim, sugiro um pouco mais de boa vontade de sua parte. Permita-se pensar comigo aqui alguns pontos, ok? Então vamos lá.
Felicidade é ter dinheiro? Alguns dirão que sim, outros rechaçarão a idéia. Será que viajar para todos os cantos do mundo, ter as melhores roupas, hospedar-se nos hotéis mais luxuosos ou frequentar as noitadas mais badaladas do planeta não traz a tal da felicidade? Os meios de comunicação provam quase que diariamente que ter dinheiro não é sinônimo de felicidade. Pelo menos não totalmente. E olha que eu mesmo conheço muita gente que não tem um centavo no bolso e que posso garantir que vive em uma felicidade ímpar ...
Então, felicidade é ter saúde? Sem dúvida alguma, ter saúde e poder levar uma vida digna é uma benção. Mas, veja o meu exemplo. Há alguns anos convivo com algumas lesões sérias que tiram muito do meu humor, muito da minha paciência, mas, eu diria que ainda assim, eu gozo essa bendita felicidade em vários momentos da vida, inclusive naqueles em que minha saúde se encontra debilitada. Logo, ter saúde simplesmente não preenche completamente o conceito de felicidade.
Ah, já sei! Felicidade é ter do nosso lado alguém que amamos e nos ame de verdade! Bem, pode até ser. Mas, se fosse apenas isso, talvez não existisse tanta traição por aí. Se eu sou feliz com você e vice-versa, se um preenche o outro, por que vamos atrás de algo além da felicidade? Complicado né, eu mesmo já não sei em que ponto vou chegar nesse texto. Muito confuso. Platão e Aristóteles a uma altura dessas, devem estar travando um grande duelo no mundo espiritual para ver quem primeiro chega à resposta mágica!
Como estudante já traumatizado com as trinta e cinco mil teorias adotadas pela doutrina e jurisprudência e cobradas nos concursos públicos da área jurídica e pelos cento e noventa mil princípios que existem em nosso ordenamento jurídico, resolvi desenvolver aqui neste espaço a minha própria teoria, gostem ou não.
Chama-se a Teoria Plena da Felicidade Abstrata. Não me perguntem o que isso quer dizer e de onde eu tirei esse nome. Mas, neste momento, está fazendo muito sentido aqui para o tico e teco que habitam esse vazio que costumo chamar de cérebro.
Por esta teoria, eu defendo a idéia de que a felicidade comporta diferentes graus de exteriorização no ser humano, sendo perfeitamente possível mensurá-la, senão vejamos.
Imagine aquele indivíduo que terminou um relacionamento de 4 anos e que resolveu fazer uma noitada com amigos. O idiota resolve viver os 4 anos em uma única noite, bebendo tudo o que pode e não pode. Ri de tudo, de si mesmo e acha engraçada e interessante toda e qualquer mulher que conhece durante a noite. Fica com duas, pega telefone de outras três e para o resto da boate diz não saber como pôde perder tanto tempo da vida dele ao lado de uma mulher. Quem nunca presenciou uma situação dessas? O sujeito vai sair da boate, entre tropeços e anseios de vômito, considerando-se o cara mais feliz do mundo, detentor da maior felicidade que já alguém experimentou na vida. Sabe o que é isso, leitor? Felicidade Aparente. Porque da mesma forma que ela veio com o álcool e a pilha errada dos amigos, ela vai embora na ressaca física e moral do dia seguinte. E sóbrio, você vai se lembrar que a gatinha da noite anterior nem era tão gatinha, muito menos a mulher mais interessante do mundo. No fundo, a felicidade se transforma em dor, você se vê infeliz. A máscara cai meu camarada e aí haja paciência contigo, porque você se torna a pessoa mais chata do mundo para os seus amigos e para quem está perto de você.
Vejamos um outro caso. Você, formado(a), resolve encarar o mercado de trabalho e ganhar o seu próprio dinheiro. Escolhe sua melhor roupa e vai para aquela entrevista de emprego. Durante a mesma, você traça um perfil que quase sempre lembra alguém ... que não é você. Fala o que o patrão do outro lado quer ouvir. Promete abdicar sua vida pessoal em prol da empresa, que seu dia na verdade tem 36 horas e você não precisa dormir e comer porque é um super dotado com poderes especiais. O emprego é seu, você liga para meio mundo, coloca 37 mensagens no facebook ou orkut e sai para comemorar essa grande façanha. O que é isso? Felicidade Passageira ou Temporária, afinal em poucas semanas ou meses, você descobrirá que aquelas mentiras ingênuas ditas ao seu patrão se transformaram no seu calcanhar de aquiles. Você sentirá fome o dia inteiro, ganhará muitos quilos comendo em fast-food, perderá a noção de tempo e espaço, achará a sua rotina, o produto do seu trabalho chato, que não estudou para fazer só aquilo; que o trabalho do colega de faculdade é muito mais interessante e que o seu salário desaparece em velocidade superior a da luz. Logo, ir ao trabalho se tornará um tormento na sua vida. Você lançará currículos no mercado e rezará todos os dias para que alguma coisa mude.
E por fim, há uma terceira modalidade de felicidade, a tal da Felicidade Real. Acho que é nessa vertente que deveríamos nos preocupar mais. A felicidade real é aquela que ocorre nas coisas mais simples até as mais complexas da vida. Geralmente, é a espécie de felicidade que mais vai te causar dor e alegria, que mais vai gerar dentro da gente uma infinidade de lembranças. A felicidade real exige da gente planejamento, dedicação, concentração, sacrifício e muita luta. Quase sempre ocorre com os objetivos que traçamos na vida. Além, é claro, dos momentos com nossos familiares, da época de colégio e por aí vai. É verdade quando dizem que a felicidade está nas coisas simples da vida.
Observe que seja qual for a vertente estudada, é possível identificar em todas elas um ciclo de início, meio e fim. Isso decorre da complexidade humana, dos sentimentos volúveis que carregamos ao longo da vida. Ontem você amava, hoje você odeia, amanhã você é indiferente. Ontem você quis, hoje você tem, amanhã você abre mão. E assim em diante. Ao final de um ciclo, procuramos sempre aquilo que não temos. A felicidade de ontem não é mais a felicidade de hoje ou amanhã.
O que eu quero dizer é que a felicidade não é algo imutável ou permanente. Ela se renova e ganha novas facetas com o tempo. Nada cai de graça no colo da gente, é preciso perseverar para ser feliz. É preciso se conhecer melhor, identificar e trabalhar os defeitos, potencializar as virtudes, ter coragem, ser destemido, não ter medo de recomeçar sempre que for preciso.
A fórmula da felicidade comporta exceções e múltiplos direcionamentos. Mas cada um trabalha na medida exata para aplicá-la no seu dia-a-dia, de maneira diferente e da forma que lhe convém.
A minha, por exemplo, é simples: FF = A + XX + CRF + $ + (VII/XII/LXXXIII + S + XV/VII/LVI)2.
Pra mim, felicidade é consegui ter força para lutar e dar a volta por cima diante das adversidades da vida. Se temos essa força interior, temos a felicidade nas mãos.
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